Bando compra lotérica para aplicar golpes na Mega Sena

Quadrilha agia fazendo apostas na Mega Sena e não repassando o dinheiro para a Caixa Econômica Federal

PUBLICIDADE

Por Clarissa Thomé
Atualização:

A Polícia Federal prendeu sete pessoas acusadas de dar um golpe de cerca de R$ 5 milhões na Caixa Econômica Federal. A quadrilha comprou uma casa lotérica e emitiu bilhetes da Mega Sena sem repassar os valores das apostas para a Caixa. Os cartões impressos foram premiados com quadras. O bando conseguiu sacar R$ 95 mil. O golpe foi descoberto a tempo, antes que a quadrilha recebesse outros prêmios. Outros dois acusados permanecem foragidos. A quadrilha comprou a lotérica Toque de Midas, na Tijuca, zona norte da cidade, em junho, por R$ 100 mil - R$ 30 mil pagos à vista e o restante em cheques (que não tinham fundos). A loja funcionou por quatro dias. Na sexta-feira, 15, os novos donos dispensaram os antigos funcionários, alegando que iriam renovar o quadro de empregados. Mas não voltaram a abrir as portas. Eles emitiram 652 bilhetes de 15 dezenas, ao custo unitário de R$ 7.500 - rombo total de R$ 4.890.000, durante o fim de semana. No dia 16, foram impressos 267 cartões da Mega Sena. No domingo, mais 385 cartões. Como o concurso de sábado não estava acumulado - o anterior havia pago R$ 26 milhões, mas o do dia 16 previa pagamento de R$ 1,5 milhão -, a movimentação acima do normal chamou a atenção da CEF. Além disso, aquela loja não costumava funcionar aos domingos e dificilmente tinha apostas no valor de R$ 7.500. Na segunda-feira à noite, quando os quase R$ 5 milhões não foram repassados à Caixa, o banco comunicou o caso à Polícia Federal. Das 652 apostas feitas pela quadrilha, 19 bilhetes estavam premiados com 55 quadras. Se fossem apostas válidas, o bando teria pelo menos R$ 220 mil a receber. Mesmo assim conseguiu sacar cerca de R$ 95 mil de apenas oito bilhetes porque a CEF ainda não tinha provas sobre o golpe. Nas agências, os gerentes já estavam orientados a informar que o bilhete precisava ser validado em Brasília. Alguns dos supostos ganhadores desistiram do saque e fugiram. Oito apresentaram o CPF. A partir desse documento foram localizados pela PF. De acordo com o delegado da Fazendária da PF, Lourenzo Pompílio da Hora, o chefe da quadrilha é o advogado José Roberto de Freitas, preso no início da tarde no Barra Shopping, na zona oeste. Ele disse que só falaria em juízo. "As provas contra eles são muito robustas, inclusive há imagens dele recebendo o dinheiro do prêmio numa das agências". O delegado indiciou Freitas e outros oito acusados por apropriação indébita, estelionato e formação de quadrilha. Para Pompílio, não há indícios de lavagem de dinheiro. "Não temos elementos para acreditar que estivessem envolvidos com tráfico ou contrabando. Foi uma tentativa de golpe", afirmou. A CEF informou que a casa lotérica da Tijuca foi descredenciada. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que no início do ano denunciou suposto esquema de lavagem de dinheiro a partir de jogos da loteria, disse nesta terça-feira, 28, que o episódio mostra que o "sistema é vulnerável". "O governo federal precisa adotar mecanismos para impedir este tipo de assalto, pois afinal é o dinheiro público que está envolvido nisto. Creio que o governo federal poderia aceitar sugestões do Congresso Nacional para tornar a legislação para este tipo de jogo mais rigorosa".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.