RIO - Em solenidade de inauguração da primeira Companhia Integrada de Polícia de Proximidade (CIPP) da Polícia Militar, projeto-piloto para levar policiamento comunitário ao bairro do Grajaú (zona norte do Rio), o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, criticarama violência contra policiais no Estado. Durante a cerimônia nesta segunda-feira, 24, Beltrame disse que os policiais sofrem a mesma "barbárie e selvageria" que toda a sociedade. No fim de semana, dois policiais civis e dois PMs foram mortos por criminosos no Rio. Outros cinco foram feridos.
"Os policiais sofrem hoje a barbárie, sofrem a selvageria. Porque as pessoas matam por R$ 30, por um celular", disse Beltrame, que voltou a defender "penas mais duras" para criminosos. "A legislação brasileira está na hora de ficar muito mais próxima dos anseios da sociedade."
Já Pezão afirmou que vai a Brasília com Beltrame pedir "penas mais duras no Congresso"."Não podemos colocar toda a carga de violência que a gente tem hoje só em cima da Polícia Militar."
O governador disse que o que se quer no asfalto, com a polícia de proximidade, se quer no morro, com as Unidades de Polícia Pacificadora. O governador admitiu que "tem policial ruim" como "tem político ruim e médico ruim". "Se tem policial ruim, tem uma porção de coisa ruim no País. Não podemos achar que todo policial é um ser ruim."
O coronel Alberto Pinheiro Neto, comandante da PM, falou em "reestruturação" da corporação e disse que a estratégia de policiamento de proximidade busca facilitar a comunicação entre moradores do bairro e policiais. "Desejamos que nossos policiais desenvolvam maior comunicação com as pessoas. O policial de proximidade, por se encontrar mais próximo à comunidade, detém o acesso privilegiado a informações".
Durante a inauguração, moradores do Grajaú conversaram com autoridades e protestaram contra a violência no bairro. A jornalista Ana Cristina Braga, de 47 anos, exibia um cartaz com as inscrições: "Sou refém dos bandidos em minha própria casa". Ela tentou falar com Beltrame, mas foi ignorada pelo secretário.
"Tenho medo de sair à rua para trabalhar, tenho medo de ir à feira e ao mercado", conta ela, que sofreu o primeiro assalto há nove meses, três depois de começar a morar no bairro. Seis meses depois, o marido dela também foi roubado. "Eles são covardes, eles batem, eles levam tudo. As pessoas são assaltadas aqui diariamente. Nós temos ruas escuras, desertas e mal policiadas", queixou-se.
Já o radialista Uedson Júnior, de 33 anos, mora há 8 anos no bairro. Ele exibia um cartaz dizendo que seu apartamento havia sido invadido por criminosos. "Eu vim protestar contra o atual serviço insatisfatório. Vamos ver se agora dá certo. O histórico não é bom, nada nunca dá certo. A gente vê projetos acontecendo e meses ou anos depois eles morrem."
No primeiro dia da CIPP, os policiais já vestiam coletes diferentes dos demais PMs, com faixas em laranja, e armas de choque, além das pistolas. No evento de inauguração, alguns PMs do 6º Batalhão, onde a unidade está lotada, distribuíram folhetos sobre a nova companhia integrada.
Os cartões de visita que distribuíram aos moradores, porém, ainda não estão nas mãos dos soldados, 104 recém-formados na PM que serão divididos por ruas da região para o patrulhamento. "O cartão deve chegar até o fim da semana", disse um deles. Já os carros usados nas patrulhas da CIPP têm identificação especial, com as inscrições "Polícia de Proximidade".