Casa-símbolo da resistência é demolida na Vila Autódromo

Moradia de Maria da Penha Macenas, de 50 anos, era uma das últimas que estavam dentro do traçado das obras da Olimpíada

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Por Constança Rezende
Atualização:

RIO - Símbolo da resistência às demolições da comunidade Vila Autódromo, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, para dar lugar às obras olímpicas, a casa de Maria da Penha Macenas, de 50 anos, foi demolida na manhã desta terça-feira, 8, pela Prefeitura. A Tropa de Choque da Guarda Municipal chegou às 6 horas, em cumprimento de um mandado judicial emitido da última sexta-feira, 4.

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A residência de Maria da Penha era uma das últimas que estavam dentro do traçado das obras feito pela prefeitura do Rio que ainda não haviam sido demolidas. De acordo com moradores, a casa foi abaixo sem a presença de engenheiro responsável pela demolição.

Ativistas reclamaram nas redes sociais da ação da Guarda. Alguns lembraram que a operação aconteceu no Dia Internacional da Mulher.

Moradora do local há 23 anos, Maria da Penha não concordava em sair do local, nem com indenização ou reassentamento. "Por que eles não nos deixam aqui e reurbanizam a comunidade? Seria um bom legado para a Olimpíada. Tem espaço", disse Penha, na semana passada, ao Estado.

Ativistas reclamaram nas redes sociais da ação da Tropa de Choque da Guarda Municipal na Vila Autódromo, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro Foto: Vila Autódromo/Facebook/Reprodução

Nesta terça-feira, já estava programada homenagem a Maria da Penha, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Ela receberá a medalha de Mulher Cidadã, como comemoração do Dia Internacional da Mulher.

Cerca de 700 imóveis já foram demolidos na Vila Autódromo, o que representa 85% da ocupação do local, que remete aos anos 1960. A localização privilegiada, às margens da Lagoa de Jacarepaguá, despertou a atenção de pescadores e, depois, com o boom imobiliário no bairro, dos operários que trabalhavam na região.

No fim da manhã desta terça-feira, guardas faziam cerco à casa de Márcio Henrique de Jesus, de 35 anos, que também está dentro do traçado das obras olímpicas. Ele tem uma filha de um mês, que está dentro do imóvel.

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Município. A prefeitura do Rio apresentou um plano de reurbanização da Vila Autódromo. No local, cerca de 700 imóveis já foram demolidos. Isso representa 85% da ocupação do local.

Segundo o prefeito Eduardo Paes (PMDB), que pela primeira vez deu entrevista sobre as demolições iniciadas em março de 2014, das 842 famílias do local, 275 precisavam sair por estarem dentro do traçado das obras ou nas margens de proteção ambiental da Lagoa de Jacarepaguá. As outras foram reassentadas em condomínios do programa Minha Casa, Minha Vida, no Parque Carioca, que fica perto da Vila, ou na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, cerca de 14 quilômetros distante. Restam 29 famílias no local, sete estão dentro do traçado das obras.

“Das famílias que não estavam nessas condições, 531 nos pediram para sair, através de abaixo assinados, dada a mudança do padrão de vida após o início das negociações com a prefeitura e as condições precárias que viviam. Os valores das indenizações se tornarem atraentes para as pessoas”, disse o prefeito.

Paes afirmou também que tentou negociação com Maria da Penha, no penúltimo fim de semana, mas a moradora não aceitou o acordo. “Não houve processo autoritário. O que queria era se formar um circo, chamar atenção. Não podemos ter como vítimas pessoas que não são vítimas”, afirmou. A resistência de moradores a deixar a vila teve repercussão internacional.

Moradores reclamam que a rotina na Vila Autódromo ficou praticamente inviável, com o fluxo de tratores, acúmulo de entulho, falta dos serviços da Comlurb, Light, Correios, rompimento de tubulações de água e demolição do comércio. 

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