Com mais dois PMs mortos, Rio tem 96 policiais executados no ano
Cabo Elisângela Bessa Cordeiro foi baleada num assalto; soldado Samir da Silva Oliveira foi atingido durante abordagem a veículo suspeito
Por Vinicius Neder
Atualização:
RIO - Dois policiais foram mortos entre a noite de sexta-feira, 11, e a madrugada deste sábado, 12, na cidade do Rio de Janeiro, elevando para 96 o número de integrantes da Polícia Militar (PM) mortos neste ano. A cabo Elisângela Bessa Cordeiro, de 41 anos, foi baleada num assalto. Já o soldado Samir da Silva Oliveira, 37 anos, foi atingido durante uma abordagem a um veículo suspeito. Os dois casos foram na zona norte da capital.
O assalto que levou à morte de Elisângela foi na Avenida Brasil, uma das principais vias de acesso ao Rio, que corta as zonas oeste e norte até a região portuária. Segundo a assessoria de imprensa da PM, Elisângela estava de folga e acompanhada do marido no carro quando foram abordados por assaltantes. A vítima chegou a ser levada para o Hospital Central da Polícia Militar, mas não resistiu ao ferimento na cabeça.
A PM informou, ainda, que dois adolescentes encontrados com ferimentos a bala nas pernas na manhã de sábado podem ter participação no crime. O caso foi identificado pelo policial de plantão no Hospital Estadual Getúlio Vargas, para onde os jovens feridos foram levados.
Segundo informações do policial de plantão, os dois foram encontrados perto da favela da Pedreira, em Costa Barros, quase na divisa com São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Os adolescentes teriam sido encontrados ao lado de um carro, onde havia um corpo no porta-malas. Eles teriam sofrido retaliações de traficantes da favela, uma vez que, ao lado dos suspeitos, foi encontrado um cartaz que indicava "serem ladrões e matadores de polícia".
"Ambos confessaram ter participado de assalto a um casal em Coelho Neto, em que a mulher teria reagido e sido baleada por eles na cabeça", informou a nota enviada pela assessoria de imprensa da PM.
Em protestos, estratégias da PM e de manifestantes variam de pedradas a blindados israelenses
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Blindados Israelenses
Presentes na manifestação contra o aumento da tarifa, os blindados são equipados com sistemas não letais para dispersar tumultos: podem lançar jatos d... Foto: DivulgaçãoMais
Blindados Israelenses
Os veículos são os mesmos usados por Israel para conter palestinos na Faixa de Gaza e e o seu uso chegou a ser cogitado durante a Copa do Mundo, mas o... Foto: José PatrícioMais
Bomba de Gás
A bomba de gás lacrimogêneo é uma das principaisarmas não letais da PM. Ela pode ser arremessada com a mão ou com uma arma lançadora e provoca irritaç... Foto: JF Diorio/EstadãoMais
Bombas de Efeito Moral
Jáas bombas de efeito moral são variadas. As mais comuns fazem barulho. Apesar de ser considerada de baixo potencial ofensivo, estilhaços após a explo... Foto: Sebastìio Moreira/EFEMais
Spray de Pimenta
O spray de pimenta é usado em manifestações, ocorrências policiais e defesa pessoal. É um tipo de gás lacrimogêneo, geralmente obtido com extrato de p... Foto: Robson Fernandjes/EstadãoMais
Bala de borracha
A bala de borracha só é usada em manifestações consideradas mais violentas.No protesto de estudantes contra a reorganização da rede de ensino, por exe... Foto: Daniel TeixeiraMais
Bala de Borracha
Mesmo com a ponta de borracha, abala é capaz de provocar ferimentos graves. Policiais devem mirar da cintura para baixo, mas nem sempre atingem uma re... Foto: Daniel Teixeira/EstadãoMais
MPL
Protagonista dos atos contra o reajuste, o Movimento Passe Livre (MPL) ganhou os holofotes em 2013, ao impulsionar grandes protestos naquele ano. Foto: Tiago Queiroz/Estadão
MPL
O MPL organiza atos pacíficos e sempre buscou dissociar sua imagem dos black blocs, sem, no entanto, condenar a atuação violenta. Foto: Nilton Fukuda/Estadão
Trajeto
O MPL não negocia com antecedência o percurso dos atoscom a PM. Segundo a corporação, a estratégia dificulta o planejamento de trânsito e de segurança... Foto: Nilton Fukuda/EstadãoMais
Queima
Em alguns protestos, o MPL faz atos simbólicos com queima de imagens. Os manifestantes são aa favor da tarifa zero ejá colocaram fogo em catracas de p... Foto: Daniel Teixeira/EstadãoMais
Ação Direta
A tática black bloc é usada por manifestantes que consideram legítima a violência contra grandes empresas e Estado. O grupo atua por meio da chamada "... Foto: Gabriela Biló/EstadãoMais
Ritual
Nos atos, os black blocs usam máscara ou camisa preta para cobrir o rosto. Eles costumam se reunir pouco antes dos protestos ainda sem estar caracteri... Foto: JF Diorio/EstadãoMais
Ritual
Entre os black blocs, o ritual de encobrir a face é chamado de "morfar" - uma referência a série de televisão Power Rangers. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Tropa do Braço
A PM já usou um "pelotão ninja". O grupo é especializado em artes marciais e foi treinado para atuar sem armas de fogo. Foto: JF Diorio/Estadão
Envelopamento
O "envelopamento" é uma estratégia da PM para isolar manifestantes. A tática foi usada no protesto com maior número de detidos em São Paulo, em fevere... Foto: JF Diorio/EstadãoMais
Ação direta
Os principais alvos dos black blocs são agências bancárias, concessionárias e lojas. Também já depredaram ônibus, lixeiras e telefones públicos. Foto: Felipe Rau/Estadão
Linha de Frente
A maior parte dos adeptos da tática black bloc é formada por jovens. O grupo se considera a linha de frente dos protestos. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Visibilidade
Os black blocs também atuam para atrair atenção da imprensa - e, consequentemente, para a causa da manifestação. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Confronto
Black blocs geralmente protagonizam confrontos com a PM. Eles usam pedaços de madeira, pedra, corrente e até coquetel molotov, um explosivo fabricado ... Foto: Nacho Doce/ReutersMais
Ao jornal Extra, Alexandre Bessa Cordeiro, irmão de Elisângela, disse acreditar que a agente tenha sido executada pelos assaltantes. "O Rio virou um local de caça aos policiais, uma caçada. Acho que ela não reagiu, porque era tranquila. Todos os bairros viraram redutos de criminosos. É um perigo para todos da segurança pública, os PMs salvam vidas, mas morrem nas mãos dos bandidos", afirmou.
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Já a ação que levou à morte do soldado Samir Oliveira ocorreu por volta das 19 horas de sexta-feira. O soldado trabalhava na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) São João, no Engenho Novo, zona norte da capital. Segundo a PM, policiais da UPP, incluindo Oliveira, abordaram um veículo suspeito na Rua 24 de Maio e foram atacados a tiros por criminosos. Oliveira foi baleado no rosto. A vítima chegou a ser levada para o Hospital Municipal Salgado Filho, próximo ao local, mas não resistiu ao ferimento.
Ato em defesa da PM do Rio
1 / 9Ato em defesa da PM do Rio
Manifestação fincou 152 cruzes na areia da Praia de Copacabana, na zona sul
O movimento Rio de Paz fincou 152 cruzes na areia da Praia de Copacabana na manhã desta terça-feira, 9, para lembrar os policiais mortos de forma viol... Foto: Marcos de Paula/EstadãoMais
Manifestação fincou 152 cruzes na areia da Praia de Copacabana, na zona sul
Somente neste ano, 107 policiais foram mortos no Estado do Rio de Janeiro, do quais 89 estavam de folga e 18 em serviço. Foto: Marcos de Paula/Estadão
Manifestação fincou 152 cruzes na areia da Praia de Copacabana, na zona sul
A manifestação foi silenciosa e chamou a atenção de poucas pessoas que passavam pela Praia de Copacabana. Foto: Marcos de Paula/Estadão
Manifestação fincou 152 cruzes na areia da Praia de Copacabana, na zona sul
Além da homenagem aos PMs mortos, a manifestação também pedia por mais segurança aos policiais e mudanças no Código Penal. Foto: Marcos de Paula/Estadão
Manifestação fincou 152 cruzes na areia da Praia de Copacabana, na zona sul
Convocada pelas redes sociais, a manifestação recebeu algumas críticas de pessoas que consideram a PM do Rio violenta. Foto: Marcos de Paula/Estadão
Manifestação fincou 152 cruzes na areia da Praia de Copacabana, na zona sul
Com o olho direito ferido, policial que compareceu ao ato com os filhos pede mais proteção do Estado. Foto: Marcos de Paula/Estadão
Manifestação fincou 152 cruzes na areia da Praia de Copacabana, na zona sul
O movimento Rio de Paz já realizou outros atos semelhantes, incluindo protesto contra os gastos na Copa do Mundo e pelo desaparecimento do pedreiro Am... Foto: Sergio Moraes/ReutersMais
Manifestação fincou 152 cruzes na areia da Praia de Copacabana, na zona sul
"Nós entendemos que direitos humanos não têm lado, e por isso hoje nós estamos do lado da polícia", disse Antônio Costa, fundador do Rio de Paz. Foto: Sergio Moraes/Reuters
Manifestação fincou 152 cruzes na areia da Praia de Copacabana, na zona sul
Além das 152 cruzes, uma maior, de aproximadamente três metros, foi enrolada com uma farda da PM manchada de tinta vermelha para representar o sangue ... Foto: Marcos de Paula/EstadãoMais
A Polícia Civil informou que a Delegacia de Homicídios investiga os dois casos. Em nota, a Secretaria de Estado de Segurança Pública demonstrou solidariedade com a "dor das famílias". "As polícias estão em diligências e não vão descansar até a identificação e prisão de todos os responsáveis", diz a nota.
Nas estatísticas da PM, das 96 mortes registradas no ano até agora, a maioria (55) foram de policiais de folga, como foi o caso de Elisângela. Vinte e um PMs morreram em serviço, como no caso de Oliveira. A lista de mortos inclui ainda 20 policiais reformados, já aposentados.
Na tarde de sexta-feira, um agente da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), grupo de elite da Polícia Civil, foi morto numa operação na favela do Jacarezinho, também na zona norte. Bruno Guimarães Buhler, de 36 anos, foi baleado e socorrido no Hospital Geral de Bonsucesso, mas não resistiu. A estatística de 96 policiais militares mortos não inclui mortes de policiais civis.