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Diretoria da Mangueira deve ser indiciada por fraude processual

"Diretores adulteraram provas na investigação", diz delegado; polícia investiga a ligação da escola com o tráfico

Por Pedro Dantas e do Estado de S. Paulo
Atualização:

A diretoria da Mangueira será investigada por ter fechado com cimento a passagem secreta, encontrada pela polícia há um mês, ligando o camarote da Diretoria da Bateria na quadra da escola à uma casa na favela. Traficantes utilizavam a passagem para ter acesso aos ensaios da escola. "Os diretores serão investigados por fraude processual, pois adulteraram provas na investigação que apura os indícios de uma ligação promíscua entre a agremiação e o tráfico de drogas", disse nesta sexta-feira, 8, o delegado-titular da 17ª Delegacia de São Cristóvão, Márcio Caldas. Veja também: Bomba explode durante perícia da polícia na Mangueira A Polícia Civil descobriu a passagem durante uma operação no início de janeiro. Após o fracasso no carnaval, os problemas da escola devem aumentar, pois a polícia também procura descobrir o paradeiro do ex-mestre de bateria Valdir de Oliveira, o Mestre Gato, que desapareceu há três dias e pode ter sido morto por traficantes da favela. A adulteração de provas foi descoberta durante uma perícia realizada nesta sexta-feira, 8, na quadra da escola para documentar passagem secreta. Ao chegar no local, a polícia encontrou a passagem fechada com cimento. "Quando os diretores foram ao distrito depor, orientamos para que não adulterassem nada", lembrou o delegado. Ele considerou "estranha" a postura da escola e não descarta a hipótese de que a passagem serviria ainda para que os traficantes se escondessem no camarote durante operações policiais na favela. A perícia foi realizada num clima tenso. Armados com fuzis, agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil (Core) deram apoio ao trabalho dos investigadores e peritos. Um explosivo foi detonado próximo aos fundos da quadra no local onde estavam policiais e jornalistas. A Mangueira não permitiu o acesso da imprensa ao interior da quadra. Desaparecido Caso a suspeita se confirme, Valdir de Oliveira, o Mestre Gato, seria o terceiro mestre de bateria assassinado a mando do tráfico da Mangueira nos últimos dez anos. "Estamos investigando seu desaparecimento. Conforme uma denúncia, ele foi visto pela última vez há três dias. Vamos apurar as circunstâncias", disse o delegado Márcio Caldas. Em junho de 1998, o então mestre de bateria Alcyr Explosão, foi morto a tiros a mando do traficante foragido Francisco Testas Monteiro, o Tuchinha, um dos compositores do samba deste ano. Outro caso que chocou o mundo do samba foi a morte do Presidente da Bateria, Robson Roque, de 43 anos, em dezembro de 2004, a mando do traficante Alexander Mendes da Silva, o Polegar. Encontrado na localidade conhecida como 'microondas', o corpo carbonizado de Roque só foi reconhecido após um exame de DNA. A assessoria de imprensa da Mangueira informou que a escola não se pronunciará sobre o caso. Vice-presidente de Bateria na gestão do músico Ivo Meirelles, Mestre Gato o substituiu quando o músico pediu afastamento dos cargos de presidente da escola e mestre da bateria. Não chegou, porém, a comandar os percussionistas no último carnaval, pois renunciou dois dias depois de assumir alegando "falta de tempo". Procurado pelo Estado, Meirelles confirmou que não vê Mestre Gato há dias, mas disse não acreditar na morte dele. "A Mangueira virou a central da boataria", declarou Meirelles.

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