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Experiência no Haiti dá know-how militar ao Brasil

Três anos de missão no Haiti propiciaram mudanças em equipamentos e técnicas

Por Tahiane Stochero
Atualização:

Os três anos da presença brasileira no Haiti foram integrados em um livro de caráter reservado pelo Centro de Instrução de Operações de Paz, reunindo as melhores técnicas de ação para combate urbano. O know-how brasileiro e o sucesso na pacificação de regiões violentas da capital haitiana fazem com que estrangeiros, principalmente norte-americanos e europeus, procurem o Exército para intercâmbio de informações, na tentativa de descobrir o segredo do Brasil. Leia também: - Exército e PM do Rio treinam estratégia conjunta em favela - População de favela tem treinamento militar como rotina Acompanhe a ação do Exército com a PM no morro do Rio Acompanhe uma patrulha na região mais violenta do Haiti Especial: A missão brasileira no Haiti Segundo o tenente-coronel Novaes, a participação na missão da ONU tem rendido ao País um grande aprendizado e o desenvolvimento de líderes, que, ao viverem situações de confronto e pressão 24 horas por dia, têm de manter o controle psicológico dos comandados e tomar decisões importantes. Um dos exemplos de avanços em equipamentos é o que houve com o Urutu, o blindado brasileiro que deixava o atirador e o motorista expostos a tiros. A necessidade fez com que o carro ganhasse uma proteção especial, uma cabine que abriga os militares, além de uma pá para remover o lixo, que se acumulava nas ruas haitianas. Criou-se ainda a Urutulância, um blindado que foi transformado em ambulância para poder atuar nos enfrentamentos. Mas o grande aprendizado, segundo Novaes, foi do ponto de vista tático. Os brasileiros desenvolveram técnicas para atirar sem serem alvo fácil das gangues haitianas e respeitarem as regras de engajamento da ONU, que exige proporcionalidade na reação. Outra inovação: para evitar que um brasileiro atire em outro durante uma operação, o famoso "fogo amigo", é colocado nas armas um "sinal" que pode ser avistado à distância e é reconhecível somente entre brasileiros. Algumas das técnicas e o "sinal" foram revelados com exclusividade ao portal estadao.com.br mas não podem ser divulgados, por serem trunfos do Exército. A preparação dos militares que compõem o 8º contingente começou nesta semana e vai até novembro. Serão cerca de 6.400 horas de treinamento individual e mais de 150 mil tiros para habilitar as tropas ao novo ritmo da missão para estabilização do Haiti (Minustah), que está deixando de ser peace-enforcement (imposição da paz), para ser peace-building (construção da paz). Nesta fase, há diminuição de operações militares e aumento das ações policiais e cívico-sociais, com o crescente diálogo entre as tropas, as diversas agências da ONU, ONGs, organizações internacionais e sociedade civil. Brasil tem maior contingente em força de paz no Caribe Atuando há três anos no Haiti, o Brasil possui o maior número de militares Minustah, cerca de 1200 homens. Composto por integrantes de 40 países, a missão foi criada pela ONU em fevereiro de 2004, após uma onda de protestos e violência em todo o país provocar a queda do presidente Jean-Bertrand Aristide. Desde o início, o Brasil tem liderado operações contra o crime organizado no país caribenho, pacificando os bairros mais violentos da capital, como Bel Air, Cité Militaire e Cité Soleil. Todos os chefes militares da missão foram brasileiros. Essa é a quinta missão da ONU desde 1993 no Haiti, o país mais pobre das Américas.

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