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Explosão em apartamento mata 5 em Fazenda Botafogo

Possível vazamento de gás deixou ainda 9 feridos; moradores denunciaram problemas anteriores à Companhia Estadual de Gás

Por Alfredo Mergulhão e Sergio Torres
Atualização:

RIO - Uma explosão de madrugada em um condomínio na zona norte carioca matou três mulheres e dois homens, nesta terça-feira, 5. Nove moradores ficaram feridos. Com ameaça de desmoronamento, o bloco 38, com 40 apartamentos distribuídos por cinco andares, está interditado por tempo indeterminado pela Defesa Civil Municipal. Um vazamento de gás é a causa mais provável da tragédia. No local moram 17 mil pessoas.

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Moradores do conjunto habitacional, construído há 40 anos nos limites dos bairros de Fazenda Botafogo, Acari e Coelho Neto, disseram, revoltados, que há pelo menos um ano pedem à Companhia Estadual de Gás (CEG) providências que resolvam o crônico cheiro de gás que se espalha pelos 87 blocos. Nada foi feito, segundo eles.

A tubulação de gás enterrada abaixo do prédio 38 explodiu por volta das 5 horas. O casal Rosane e Francisco Oliveira, ambos de 55 anos, morreu na cama, em um apartamento térreo. A força da explosão foi tanta que a edificação afundou ao menos meio metro, o que levou o Corpo de Bombeiros a determinar a retirada dos moradores às pressas. 

Em desespero, moradores, muitos ensaguentados, desceram em correria, ainda vestidos com roupas de dormir. Destroços de cimento, concreto, madeira e vidro espalharam-se por dezenas de metros. Os apartamentos mais baixos tiveram as vidraças despedaçadas. 

Às 8 horas, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), chegou ao conjunto habitacional. Acabou vaiado. Ele procurou minimizar o caso e responsabilizou a CEG. “Tem de ter vergonha na cara quando se tem pessoas morrendo por causa da ineficiência de uma concessionária de gás que não aparece, quando aparece, diz que não tem problema. Tem uma explosão dessa e não tem problema?”, disse.

Ele se reuniu com moradores, a quem anunciou a contratação de uma empresa de engenharia para recuperar o prédio. Paes disse que cobrará a despesa da CEG, que precisa “responder pelos seus atos e responsabilidades”. Ele disse ter considerado natural receber vaias. 

Investigação. A gerente de Gestão de Rede da CEG, Cristiane Delart, afirmou que das 40 unidades habitacionais, 19 usam o serviço prestado pela concessionária. “A gente lamenta o acidente e estamos sensibilizados com as famílias afetadas, mas é importante frisar que os outros 21 apartamentos usam outro tipo de fornecimento de gás. Isso inviabiliza qualquer conclusão neste momento.” 

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Cristiane informou que a CEG registrou em março quatro chamados de moradores do prédio onde houve a explosão, todos referentes ao cheiro forte de gás. “Essas ocorrências foram imediatamente resolvidas. Em dezembro também vistoriamos toda a rede que abastece o imóvel e não identificamos nenhum escapamento na distribuição de gás”, afirmou a gerente.

O prédio de cinco andares, que teve as fundações abaladas, corria o risco de desabar, informou inicialmente a Defesa Civil Municipal, que interditou a área Foto: Fábio Motta/Estadão

A causa da morte das vítimas será determinada pelo Instituto Médico-Legal (IML). A falta de ferimentos expostos pode ser indício de óbito provocado por inalação de gás.

O Procon carioca notificou a CEG pelo acidente e deu prazo de cinco dias para a empresa apresentar a defesa. A multa pode passar de R$ 9 milhões. “A responsabilidade da CEG é inquestionável. Trata-se de um caso grave de acidente de consumo em que todas as vítimas deverão ser indenizadas”, disse o presidente Fábio Ferreira.

O síndico, José Airton Lima, disse ter acionado a CEG “inúmeras vezes” e em nenhuma visita dos técnicos houve orientação sobre troca de tubulação.

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‘PENSEI QUE O PRÉDIO FOSSE CAIR. TREMEU TUDO’

A força da explosão provocou uma “chuva de pedras” na Rua Omar Fontoura, onde fica o conjunto habitacional Fazenda Botafogo, na madrugada desta terça. O servidor público Luiz Carlos Santos Martins, de 34 anos, acabara de deixar o prédio vizinho quando a estrutura de concreto explodiu, fazendo voar os destroços.

“Eu tinha acabado de colocar o pé na calçada para ir ao trabalho quando ouvi o estrondo. Minha única reação foi abaixar e esperar o fim do barulho e das pedras caindo. Logo que levantei vi várias pessoas saindo do prédio desesperadas, algumas ensanguentadas”, disse. 

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Àquela altura, no prédio ao lado, cinco pessoas morriam. A mais velha era o aposentado José dos Santos, de 85 anos. Santos morava com o filho, José Jomil Rodrigues dos Santos, de 59 anos, que está internado em estado estável no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, na zona norte do Rio.

A vítima mais nova foi Karen Nicácio Melo, de 13 anos. “Ela era uma garota alegre, bonita e muito divertida”, resumiu Isabela Vitória de Souza Lima, de 16 anos, moradora do segundo andar do prédio. Também morreram a secretária Rosane Alves Oliveira e o pintor automotivo Francisco Guilherme Oliveira, ambos de 55 anos e que eram um casal. Uma mulher identificada como Maria de Lourdes Machado, de 30 anos, morreu a caminho do hospital. 

Moradora do segundo andar, a aposentada Eudes de Almeida, de 80 anos, estava dobrando os lençóis da cama quando ouviu a explosão. “Pensei que o prédio fosse cair na minha cabeça. Tremeu tudo, minhas janelas estouraram, os ferros das cortinas se retorceram e minhas pernas travaram. Só saí de casa quando os bombeiros me carregaram”, afirmou ela.

A aposentada Marina de Carvalho, de 76 anos, ainda vestia camisola às 10 horas. Ela não teve tempo de trocar de roupa no meio da confusão. “Quero pegar meus remédios. Não consegui pensar nisso na hora do desespero.” 

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