Fogo no Museu Nacional destruiu coleção egípcia

Das 700 peças, oito eram múmias e parte havia sido comprada na época do Brasil Império; algumas peças foram recuperadas

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Por Roberta Jansen
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RIO - Uma das mais importantes coleções do Museu Nacional foi também uma das mais atingidas pelo fogo: a coleção egípcia. Eram 700 peças - entre elas, nada menos que oito múmias - a grande maioria comprada, pessoalmente, por dom Pedro I e, posteriormente, por dom Pedro II.

No dia 2 de setembro de 2018, um domingo, um curto circuito num aparelho de ar condicionado no térreo do Palácio São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, deflagrou um incêndio que consumiu durante seis horas boa parte do acervo do Museu Nacional Foto: Fábio Motta / Estadão

As múmias e seus sarcófagos foram inteiramente perdidos, embora alguns ossos tenham sido preservados pelo fogo. Amuletos que estavam dentro dos sarcófagos também sobreviveram, bem como estatuetas, uma delas a do sacerdote Menkheperr - a única do mundo que o representa como faraó e, por isso mesmo, considerada raríssima.

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“Era uma das maiores e mais importantes coleções da América Latina e do mundo”, afirmou o arqueólogo do Museu Nacional Pedro Luiz Von Seehausen, especializado em Egito. “O impacto do fogo foi muito grande, eram muitas peças de madeira e múmias; mas o que era de metal e de pedra, conseguimos resgatar.”

Uma das boas surpresas foi a recuperação do escaravelho e de outros oito amuletos que estavam dentro do esquife da múmia da dama Sha-Amun-Em-Su, datada de 750 a.C. - um dos poucos sarcófagos do mundo que nunca tinham sido abertos. Pesquisadores, no entanto, conheciam o conteúdo do esquife porque ele tinha sido tomografado em 2005 e conseguiram achar as peças em meio aos escombros.

A múmia foi um presente dado a dom Pedro II, durante uma visita ao Egito em 1876. O monarca gostou tanto do presente, que o deixava em seu escritório e, contrariando a tradição da época, resolveu não abrir o sarcófago. A maior parte da coleção, no entanto, havia sido adquirida por dom Pedro I, das mãos de um negociante argentino.

Os pesquisadores conseguiram recuperar também vários shabtis, estatuetas de 10 a 60 centímetros que eram colocadas nos esquifes para cumprir tarefas que os mortos poderiam ser invocados a realizar no outro mundo. Algumas estelas, placas em rocha ou madeira com cenas do cotidiano e textos, que eram usadas em epitáfios, também foram encontradas.

Os ossos das múmias que sobreviveram ao fogo poderão, agora, ser estudados. “Estudos químicos que não podíamos fazer antes podem trazer informações importantes sobre alimentação e doenças, por exemplo”, afirmou o arqueólogo.

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O trabalho de garimpo nas salas da coleção egípcia ainda não foi concluído e Seehausen espera ainda ter novas boas notícias. “Perder as múmias foi um processo devastador, mas, apesar da tragédia, conseguimos recuperar muita coisa”, resume o especialista. “Ainda temos uma coleção relevante, com peças raríssimas; pensamos que tínhamos perdido tudo, mas demos o sangue para resgatar o que podíamos.”

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