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Foliões fazem piada com caso Queiroz no carnaval do Rio

Grupo se conheceu através das redes sociais e foi a bloco com fantasias de caixa eletrônico e 'cheques laranjas'

Por Vinicius Neder
Atualização:

O baile de carnaval do Cordão do Boitatá anima foliões no Centro do Rio desde por volta das 11 horas, no palco armado em plena Praça XV, marco histórico do Centro do Rio. Como todos os anos, o baile é animado ao som de sambas, marchinhas, frevos, afoxés, samba-reggaes, mas chamou a atenção também o tom político da festa. Foliões aproveitaram suas fantasias para fazer piada com a política, enquanto os organizadores do Cordão do Boitatá fizeram críticas ao prefeito Marcelo Crivella (PRB) e uma homenagem a Marielle Franco, vereadora do Rio pelo PSOL, assassinada há cerca de um ano.

Foliões fazem fantasias ironizando a relação entre o senador Flávio Bolsonaro e seu ex-assessor Fabrício Queiroz Foto: Vinicius Neder/Estadão

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Um grupo de 48 foliões chegou ao baile do Boitatá fazendo piada com as suspeitas envolvendo movimentações financeiras atípicas pelo ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) Fabrício Queiroz. O professor de geografia Faber Paganoto, de 36 anos, estava fantasiado de caixa eletrônico, enquanto os outros 47 foliões vieram de "cheques laranjas" de R$ 2.000, numa alusão aos depósitos frequentes que o ex-assessor fazia e recebia para outros funcionários do gabinete de Flávio quando o senador e filho do presidente Jair Bolsonaro era deputado estadual no Rio.

Paganoto contou que organizou a fantasia de protesto pelas redes sociais. "Joguei a ideia no 'stories' e as pessoas foram se juntando", disse Paganoto, explicando que os 48 foliões estão formados por grupos de amigos, alguns que nem se conheciam anteriormente. O professor falou ao Estado enquanto o grupo posava para fotos em frente à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) – a sede do Legislativo fluminense, que sediou a Câmara dos Deputados na primeira metade do século XX, fica ao lado da Praça XV. Várias das movimentações financeiras suspeitas foram feitas em caixas eletrônicos da Alerj. As movimentações foram identificadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), em relatório feito a pedido do Ministério Público Federal do Rio e revelado pelo Estado.

A festa deste domingo é o 14º baile promovido pelo Cordão do Boitatá na Praça XV. O primeiro, 13 anos atrás, se seguiu ao desfile pelas estreitas ruas do centro histórico do Rio – nos primeiros anos do baile, os músicos subiam ao palco após desfilar, até que, já nesta década, o grupo passou a marcar os desfiles para o domingo anterior ao carnaval, separando os dois eventos. O grupo, que desfila no carnaval do Rio desde 1997.

Crianças se divertem no Cordão do Boitatá, no Rio de Janeiro, durante o Carnaval Foto: Lucas Landau/Reuters

Assim como os foliões, os integrantes do Cordão do Boitatá deram tom político à festa. O músico José Maurício Horta, um dos fundadores do grupo, usou os microfones para criticar as restrições impostas aos blocos de Rio pela Prefeitura do Rio no carnaval deste ano. A prefeitura irritou os organizadores dos blocos ao publicar, em janeiro, portaria com exigências consideradas descabidas para os desfiles e apresentações. 

Além de exigir que os blocos disponham de maqueiros, ambulâncias, postos de atendimento médico e até notas fiscais de extintores, o documento estabelece uma mudança fundamental: que, em vez de apenas comunicar seus desfiles à Polícia Militar, como sempre faziam, os blocos obtenham uma autorização da PM. Alguns batalhões concederam os documentos, enquanto outros negaram. Diante da dificuldade para cumprir as exigências, os desfiles autorizados pela prefeitura diminuíram, passando de 608 em 2018 para 498 neste ano.

"Não teve um bloco na cidade que não tenha comido o pão que o diabo amassou para sair este ano", afirmou Horta, num intervalo do show, logo após os músicos tocarem "Eu quero é botar meu bloco na rua", lançada em 1972 pelo cantor e compositor Sérgio Sampaio, que faria sucesso no carnaval de 1973, segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

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O tom político esteve também na homenagem a Marielle Franco. Para lembrar o um ano do assassinato da vereadora do PSOL, o baile do Boitatá tocou o samba-enredo da Mangueira deste ano, que cita Marielle e se popularizou antes mesmo do desfile no sambódromo da Sapucaí, marcado para a noite desta segunda-feira.

Para viabilizar o carnaval deste ano, o Boitatá lançou uma campanha de financiamento coletivo – com 697 apoiadores, conseguiu arrecadar R$ 95,2 mil brutos. Antes de o show deste domingo começar, Horta avaliou positivamente a campanha para financiar o carnaval deste ano. "Foi uma surpresa super legal, numa campanha de duas semanas. É bom colocar o carnaval na rua com ajuda dessas pessoas, de forma independente", afirmou Horta.

O músico lembrou que, apesar do sucesso na arrecadação, o valor é insuficiente para arcar com a montagem do palco, a estrutura de som, gerador de energia e a equipe de apoio, entre outros gastos com a produção do baile. Geralmente, ano a ano, os integrantes do Boitatá colocam recursos próprios para fechar as contas. Ao longo do baile deste domingo, o grupo agradeceu ao apoio e ressaltou que ainda aceita doações. Como foi anunciado diversas vezes aos microfones, um chapéu passou pelos foliões ao longo do dia arrecadando mais fundos.

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