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Gravações sugerem que Rodrigo Bethlem recebia dinheiro de ONG suspeita

Em conversa interceptada entre o deputado e a esposa, Bethlem diz que 'CadÚnico' dá em torno de R$ 65 mil e R$ 70 mil por mês

Por Thaise Constancio e Fábio Grellet/RIO
Atualização:

Nas gravações em que o deputado federal Rodrigo Bethlem (PMDB-RJ) e sua ex-mulher, Vanessa Felippe, tentam acertar o pagamento da pensão, o ex-secretário municipal de Governo do prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, declara que sua principal fonte de receita vem de um convênio firmado pela Secretaria Municipal de Assistência Social com uma organização Não-Governamental. As gravações, conduzidas e divulgadas pela ex-mulher de Bethlem, foram publicadas pela revista Época, nesta sexta-feira.

Segundo Vanessa, as gravações foram feitas em novembro de 2011, quando Bethlem estava à frente da Secretaria de Assistência Social. O valor era repassado por um representante da ONG que operava o convênio. Nos registros, o deputado federal, que atualmente renunciou ao cargo de secretário de Governo para tentar a reeleição à Câmara de Deputados, afirma à ex-mulher que recebia cerca de R$ 100 mil por mês. Apenas o convênio mencionado rendia até R$ 70 mil mensais.

Gravações fazem entender que Rodrigo emitia a autorização para que a Secretaria pagasse a empresa e recebia parte do valor pago Foto: Marcos Arcoverde/Estadão

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“Bethlem – É um convênio que eu tenho, cadastro único.

Vanessa – Hã, o que que tem isso?

Bethlem – É minha principal fonte de renda hoje. O cara não prestou conta direito, o cara é um idiota, um imbecil. Não pude pagar o cara este mês, não recebi. Tava prestando conta, prestou agora, enfim. Também é uma receita que eu tenho até... certa até fevereiro, até março, porque é um convênio de sete meses. É... outra coisa que eu quero te dizer é o seguinte...

Vanessa – E quanto dá isso.... E quanto dá isso por mês?

Bethlem – Eu tenho... eu tenho de receita é cerca de R$ 100 mil por mês. É o que eu tenho tudo junto.

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Vanessa – Quanto dá CadÚnico por mês?

Bethlem – Em torno de uns R$ 65, R$ 70 mil. Depende do que ele receber, entendeu? Se tiver alguma glosa. Se ele prestar contas, se não tiver executado todo o serviço, tem uma glosa. Fora isso, tem o lanche e meu salário.

Vanessa – Lanche? Que lanche?

Bethlem – O lanche que é servido pro... O cara que vende lanche para todas as ONGs é meu amigo.

Vanessa – Ah, achei que era lanche mesmo... E quanto é de lanche?

Bethlem – Em torno de R$ 15 mil, hoje. O cara tá vendendo metade do que deveria vender

Vanessa – Até quando?

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Bethlem – Claro, até quando existir o convênio... Até quando ele (ininteligível)

Vanessa – E por que que o tal do treco é até fevereiro?

Bethlem – Porque o convênio acaba, tem prazo fixo, que é só para fazer o cadastro de todos os que estão faltando.”

Nas gravações, Bethlem diz a Vanessa que tinha intenção de pagar uma pensão de R$ 45 mil. O deputado ainda menciona ter mágoa pela ex-mulher, por ter ameaçado denunciá-lo à Polícia Federal por causa de uma assessora.

“Bethlem- Se você quer saber, olha, eu, em termos de mágoa, eu acho que a eu que tive com você dificilmente você vai ter uma igual comigo.

Vanessa - Tá, tá bom...

Bethlem - Dificilmente

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Vanessa - Caramba... (...)

Bethlem - Dificilmente... Acho pouco provável

Vanessa – Você tem uma amante um ano e meio, faz e acontece, fala de mim para meio mundo, eu não abro a boca para falar de você. E você que tem mágoa de mim?

Bethlem – Mas eu nunca cheguei para você e disse: ‘olha, se você sair desse sofá aqui de casa, eu vou na Polícia Federal contar que você ficou aqui pegando dinheiro um ano da sua assessora... Você vai (ter de ir lá) pra devolver o dinheiro’”

Em outro trecho, Bethlem assume que possui uma conta na Suíça.

“Bethlem - Você por acaso não disse que se, por acaso eu não desse a metade para você, muita gente ia gostar de saber que eu tinha conta na Suíça?

Vanessa – Quando... Eu disse isso onde?

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Bethlem - Aqui. Eu sentado ali e você aqui.

Vanessa – Que... que conta na Suíça?... Deixa eu te explicar uma coisa... Que conta na Suiça?... E como é que eu poderia dizer isso... primeiro, pra eu dizer isso, eu tenho que, no mínimo, pra dizer tem que provar. Provar que você tem uma conta na Suiça.

Bethlem – Vanessa você disso isso (...) Eu não passei mal à toa, Vanessa. Eu não sou débil mental.”

Quando o ex-casal discutia a partilha de bens, Bethlem relembrou uma discussão anterior com Vanessa, em que reconhece que não poderia legalizar o valor do pagamento da pensão na justiça, porque assinar um papel sobre o assunto significa que estaria confessando um crime.

“Bethlem – Eu falei: ‘Vanessa, no papel eu não vou colocar porque não há condições de colocar isso no papel. Eu assinar isso significa que vou fazer a confissão de um crime, que eu não fazer nunca’. Aí você virou e falou o seguinte: ‘Não, você vai assinar o papel, você sabe por quê?... porque eu tenho certeza, crime por crime, eu tenho certeza que muita gente ia gostar de saber que você tem uma conta na Suíça’.

Vanessa – Rodrigo, como é que eu posso ter dito uma coisa dessas. Eu não teria nem como provar que você tem uma conta na Suíça.

Bethlem - Então, Vanessa, eu tive... eu tive uma ilusão...

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Vanessa - Só um minutinho...

Bethlem - Então, Vanessa...

Vanessa - O que que eu, Vanessa, sei de conta na Suíça, pra provar que você tem uma conta na Suiça? Me diga.

Bethlem – Você está careca de saber que fui à Suíça para abrir uma conta lá.”

O deputado, filho da atriz Maria Zilda, não menciona qual empresa pagava-lhe mensalmente os R$ 70 mil pelo convênio com a secretaria de Assistência Social. Mas o diálogo leva a crer que se trata de uma ONG contratada para cadastrar famílias de baixa renda por R$ 9,68 milhões, já investigada em razão de denúncias de desvio de dinheiro em convênios com a Prefeitura do Rio. As gravações fazem entender que Rodrigo emitia a autorização para que a Secretaria pagasse a empresa e recebia parte do valor pago. Quanto ao valor “em torno de R$ 15 mil” que Bethlem receberia, por mês, em função do “cara que vende lanche para todas as ONGs”, o contrato não foi identificado.

Vanessa, que é filha do vereador e atual presidente da Câmara do Rio, Jorge Felippe, passou a receber de Bethlem uma pensão R$ 20 mil, pagos em dinheiro. A ex-mulher do então secretário gravou em vídeo a entrega de um pacote que continha esse valor.

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