Incêndio do Museu Nacional destrói acervo e sala de aula

Iniciação científica usava itens que o fogo destruiu

PUBLICIDADE

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Na última quinta-feira, eles chegaram ao Museu Nacional, mas sem a alegria de sempre. Abraçaram-se, rememoraram as experiências vividas anteriormente, olharam juntos os registros feitos em celulares e tablets. Alguns relataram ter chorado. Para 24 crianças e adolescentes, alunos de escolas públicas cariocas que integram o programa “Jovens Cientistas”, o incêndio que consumiu o Museu Nacional significou mais do que a trágica perda de um patrimônio mundial.

Estudantes trocam experiências e registros feitos em celulares e tablets Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

PUBLICIDADE

Ao acompanhar pela televisão as imagens impressionantes do fogo, meninos e meninas que partilham o amor pelas ciências se sentiram desolados com a destruição do acervo que vêm conhecendo há três meses, e pelo qual nutriam afeto. “Tinha 5 milhões de insetos lá, 5 milhões! E não existem mais deles em lugar nenhum”, repetia, enfático, Victor Augusto Soares, que quer ser cientista. O colega Renan Linhares adorava a preguiça gigante da área da zoologia. “Ainda bem que sempre tirei muitas fotos, principalmente de animais e meteoritos.”

Os encontros do projeto de iniciação científica, desenvolvido pela seção de ensino do museu com o intuito de ampliar as vivências voltadas às ciências e à história natural para além das salas de aula, começaram em junho, sempre nas tardes de quinta-feira. Com idades entre 11 e 16 anos, os estudantes vinham aprendendo sobre as diferentes áreas da instituição, vinculada à Universidade Federal do Rio (UFRJ), como paleontologia e arqueologia.

Nas gavetas dos armários da reserva técnica da entomologia, sob a orientação de profissionais do museu, observaram um sem-número de insetos – parte já extinta. Visitaram laboratórios, fotografaram ossadas, múmias, meteoritos. Às 13h30 de quinta, em clima de consternação, os garotos se reuniram novamente. Mas dessa vez, com o prédio principal destruído e interditado.

Daniel Almeida se ressentia de não ter fotografado mais as visitas anteriores. “Fiquei tão chateado! Era o meu museu queimando, e eu tinha vindo só quatro dias antes.” Maria Clara Beatriz Alves estava incrédula até se deparar com o prédio destruído. “Ninguém poderia imaginar que uma coisa assim aconteceria. Pensei que o projeto ia acabar. Fiquei feliz que voltar, apesar de tudo”. Leonardo Henrique Martins mostrava as fotos da última ida ao museu em seu tablet. “Eu tenho 11 anos e o museu, 200. É uma sensação estranha saber que acabou assim, quase tudo de uma vez só.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.