Jovem diz que não conhecia agressores

Informação foi revelada por advogada, após depoimento; adolescente usou as redes sociais para agradecer apoio: ‘Não dói o útero, mas a alma’

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Por Idiana TomazelliFernanda Nunes e RIO
Atualização:

Em depoimento à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) da Polícia Civil, finalizado ontem à noite, a adolescente de 16 anos que sofreu um estupro coletivo em uma favela na zona oeste carioca disse que não conhecia nenhum dos agressores. Assim, isentou de culpa o jogador de futebol Lucas Perdomo Duarte dos Santos, de 20 anos, com quem manteve um relacionamento amoroso nos três últimos anos e era apontado pelos investigadores como um dos principais envolvidos no crime.

A advogada Eloísa Samy Santiago, que acompanhou o depoimento, disse que a cliente reafirmou trechos do primeiro depoimento, prestado anteontem. Entre eles, a de que foi atacada sexualmente por 33 homens, que portavam fuzis e pistolas.

  Foto: WILTON JUNIOR | ESTADAO CONTEUDO

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“Ela acordou e contou 33 homens com armas, nenhum deles conhecido. Eram homens do tráfico”, afirmou a advogada. O estupro aconteceu no sábado passado em uma casa no Morro da Barão.

Antes de depor, a vítima conversou com uma psicóloga, que tentou acalmá-la, sem sucesso. Cerca de 30 minutos depois do início do depoimento, ela começou a chorar, o que causou a interrupção das perguntas formuladas pelo delegado Alexandre Thiers, delegado da DRCI.

A adolescente conseguiu se acalmar e concluiu o depoimento. Ela deixou a Cidade da Polícia às 21h20, sem falar com os jornalistas. A advogada disse não saber se continuará no caso.

Redes. A jovem usou as redes sociais para desabafar ontem. “Realmente pensei serei (sic) que seria julgada mal! Mas não fui”, escreveu. “Não, não dói o útero e sim a alma por existirem pessoas cruéis sendo impunes!! Obrigada ao apoio”, acrescentou na mensagem, curtida até ontem à noite por pouco mais de 25 mil usuários do Facebook.

Em entrevista divulgada no site do jornal O Globo, ela reviveu o episódio. “Me sinto um lixo e não queria que outra pessoa se sentisse assim.”

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Na gravação, a adolescente disse ainda que um dos agressores a procurou para pedir desculpas. Ela respondeu que não há perdão. “Queria que eles esperassem a justiça de Deus.”

No primeiro depoimento, prestado ainda na madrugada de anteontem, a vítima contou que foi visitar Lucas, a quem definiu como “ficante”, no sábado passado na favela e só se lembra de ter acordado no dia seguinte, “dopada e nua”, em uma casa desconhecida e cercada pelos agressores.

Ainda de acordo com o primeiro depoimento, ela soube na terça que um vídeo com imagens suas após o estupro circulava nas redes sociais e em sites de relacionamento. Foi a divulgação do vídeo que despertou a atenção das autoridades. O caso está sendo investigado pela DRCI, por causa da divulgação do vídeo, com apoio da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima (DCAV).

Apoio. No Facebook, a jovem recebeu centenas de mensagens de apoio de usuários. Sua foto de perfil agora ostenta o lema da campanha “Eu luto pelo fim da cultura do estupro”. Uma marcha contra a violência sexual contra as mulheres foi convocada para o dia 5 de junho, às 13h, no vão-livre do Masp, em São Paulo.

“É como se dissessem ‘a culpa é dela, foi ela que estava usando roupa curta. Foi ela que quis ir para lá’. Eu vi isso no Facebook. Eu queria que as pessoas soubessem que não é culpa da mulher. Não tem como alguém culpar uma vítima de roubo, por exemplo.”