'Minha filha virou meu maior pesadelo', diz idosa vítima de golpe de R$ 720 milhões

Em entrevista ao 'Fantástico', Genevieve Boghici afirmou que demorou a procurar a polícia por estar com 'muito medo'

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Por Marcio Dolzan
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RIO - A idosa que foi vítima de um golpe estimado em mais de R$ 720 milhões disse que a filha “se tornou uma inimiga” e que ainda convive com o medo. O golpe, que começou a ser aplicado no início de 2020 e durou até abril do ano passado, envolveu a filha e uma família de estelionatários, que se passavam por videntes.

“Não procurei mais cedo a Justiça, porque meu estado físico e emocional estava muito abalado, e eu estava também com muito medo. Não é fácil falar de filha, ainda mais numa situação dessa. Filha que foi criada com muito amor, com carinho e todo o conforto. E que, de repente, vira seu maior inimigo e pesadelo, lhe fazendo temer pela sua própria vida”, narrou Genevieve Boghici, de 83 anos, ao programa Fantástico, da TV Globo, nesse domingo, 14.

Justiça mantém prisão de Sabine Boghici, de 45 anos Foto: Reprodução/Facebook

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Apesar de afirmar que se sente “protegida e livre de uma situação que poderia ser macabra”, a idosa declarou que ainda tem medo. “É um processo que está acontecendo, e o meu medo não passou totalmente.”

Na quarta-feira passada, a Polícia Civil do Rio prendeu quatro dos seis acusados do crime – incluindo a filha da mulher, Sabine Boghici. Dois dos suspeitos não foram encontrados e estão foragidos.

Segundo a polícia, durante 15 meses a idosa foi isolada pela filha no seu apartamento em Copacabana, na zona sul do Rio. Inicialmente, a vítima transferiu cerca de R$ 5 milhões aosgolpistas. O pretexto seria o pagamento de um “tratamento espiritual”. Quando a vítima deixou de fazer os repasses, passou a ser ameaçada e agredida fisicamente. O delegado responsável pelo caso afirmou que, em um dos episódios, a filha chegou a colocar uma faca no pescoço da mãe.

Obras de arte

patrimônio desviado pelos criminosos que lesaram a idosa, incluindo a filha da vítima, tem 16 obras de arte. Apenas três quadros de Tarsila do Amaral – SonoSol Poente e Pont Neuf – somados valem R$ 700 milhões, segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro. Os demais, de artistas como Emeric Marcier e Di Cavalcanti, valem, individualmente, de R$ 150 mil a R$ 2 milhões. Somando todas peças, o valor desviado ultrapassa os R$ 711 milhões.

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Policiais exibem "Sol Poente", um dos quadros recuperados. Foto: Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade

Onze das obras, inclusive Sol Poente e Pont Neuf, foram recuperados pela Polícia. A própria idosa conseguiu reaver Sol PoenteMascaradas, de Di Cavalcanti, e O Menino, de Alberto Guignard. Maquete Para O Meu Espelho, de Antonio Dias, e Elevador Social, de Rubens Gerchman, teriam sido vendidos ao Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba), na capital argentina. Somados, só esses dois quadros valem R$ 3 milhões.

O Estadão tenta posicionamento da defesa de Sabine, que ainda não retornou os sucessivos contatos.

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