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Museu Casa do Pontal ficará fechado por pelo menos uma semana

Referência em arte popular, foi inundado por chuvas na sexta e no sábado

Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - Inundado pelas chuvas de sexta (15) e de sábado (16), o Museu Casa do Pontal, referencial no Brasil quando se trata de arte popular, e que esse ano comemora 40 anos, ficará fechado por pelo menos uma semana. O alto risco de alagamento, motivado por novas edificações erguidas na vizinhança, entre elas as que serão ocupadas pela Vila de Mídia, área destinada à imprensa internacional durante os Jogos Olímpicos, em agosto, já havia sido detectado há dois anos por um lado encomendado à Coppe, o programa de pós-graduação e pesquisa de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O diagnóstico concluiu que o museu, instalado há 40 anos numa casa no Recreio, na zona oeste do Rio, precisava se mudar. Com a enchente, a situação é de urgência, afirma a diretora, Ângela Mascelani. 

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A Prefeitura cedeu um terreno em abril de 2015 e garantiu recursos para uma nova construção, contou Ângela, que tem uma reunião na próxima quinta-feira para tratar do assunto. O consórcio de cinco construtoras responsáveis pelos novos prédios do entorno se comprometeu a arcar com as obras, como forma de compensação pelo inconveniente que causou ao museu. O teto foi fixado em R$ 11 milhões e um projeto arquitetônico já foi confeccionado, sendo o prazo para a conclusão da futura casa do museu estimado em dez meses. 

“Foi uma tragédia anunciada. A situação está difícil, mas tem solução. Esse acervo merece, a cidade merece. As obras de arte não foram afetadas, mas porque as levamos para o segundo andar”, afirmou Ângela, que, no sábado, contou com a ajuda de 30 pessoas, entre funcionários e colaboradores do museu, para retirar a água acumulada no primeiro andar e na área externa. Uma instalação da dupla de artistas OSGEMEOS, “O bunker”, localizada nos jardins, ficou ilhada. Os funcionários tiveram de proteger seu interior com sacos de areia, para que a pintura não fosse danificada. As obras “Tocador de realejo”, de Adalton Fernandes Lopes (1938-2006), e “Cineasta”, de Luiz Antônio, em cerâmica e barro, foram transferidas para o segundo andar. 

Segundo Ângela, há três anos, quando começaram as ser erguidos prédios do condomínio Pontal Oceânico, num nível 1,5 metro acima da casa, ela ficou preocupada, e solicitou a análise dos engenheiros da Coppe para que fossem avaliados os impactos das obras. Eles produziram um laudo que atesta que a ocupação da região fez com que os canais de drenagem tivessem trechos aterrados, o que dificulta a saída da água da chuva. Como o museu fica num nível mais abaixo, tudo escoaria para seu terreno. Os edifícios ficam numa área de 600 mil metros quadrados, e foram projetados para formar um novo bairro, ao fim do Recreio. 

“Os canais por onde a água deveria escoar não deram conta, porque estão obstruídos. As bombas do condomínio foram ligadas, mas também não foram suficientes”, lamentou Ângela. “Estamos falando da memória da arte popular do Brasil do século 20, que a gente quer que permaneça. São artistas que criaram na base da oralidade, não há registros por escrito. Por 40 anos esse acervo, importante internacionalmente, esteve seguro. Agora não está mais. Estamos cobrando isso das autoridades. Não pode voltar a chover”. Em 2010, o museu já havia sido alagado. Ângela credita o episódio a aterros feitos para dar lugar ao condomínio. 

Essa é a primeira vez em sua história que o Museu Casa do Pontal vai fechar por uma semana. A instituição é privada, mas recebeu a promessa de ajuda da Prefeitura por sua relevância. Foi inaugurado em 1976 pelo designer francês Jacques Van de Beuque (1922-2000), um apaixonado por arte popular que reuniu seu acervo em viagens pelo País. Abriga 8.500 peças de 300 artistas, entre eles, Mestre Vitalino, Zé Cabloco e Manuel Eudócio. São esculturas e bonecos, em sua maioria, feitos em materiais como barro, madeira, tecido e palha, que reproduzem tipos como vaqueiros, cangaceiros, noivos com trajes de casamento e integrantes de escolas de samba. O conjunto é tombado pelo município por seu valor artístico. 

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