SÃO PAULO - A investigação da Polícia Civil concluiu que, no caso da morte da menina Ágatha Felix, um policial tentou atingir duas pessoas que passaram em uma moto em alta velocidade, mas o projétil ricocheteou em um poste e um fragmento atingiu a garota nas costas. De acordo com o inquérito, o PM teria confundido uma esquadria de alumínio que um dos homens levava na moto com uma arma. “Até a moto passar, não houve relato de tiros”, afirmou o delegado Marcus Drucker, responsável pela investigação.
O Estado conversou com o coronel José Vicente da Silva Filho sobre a conclusão da investigação. Ele explicou os procedimentos em que são previstas intervenções armadas da polícia. Para ele, um disparo decorrente de um erro de avaliação do policial é resultado de medo e da falta de preparo adequado.
1. Como o senhor analisa a conclusão da investigação?
O argumento apresentado pelo policial não é plausível. O treinamento básico para um agente é feito com objetivo de facilitar a identificação de um fator de ameaça de alto risco, ainda que ocorra de forma repentina, impondo o policial a atirar. Só um policial mal preparado confunde algo dessa forma e pode indicar que estava atuando sob medo, o que atrapalha a adequada tomada de decisão.
2.Em quais situações concretas uma intervenção armada da polícia é necessária?
As situações são inúmeras, mas sempre quando há ameaça clara contra o policial ou contra terceiros, impondo um risco ao que estão ali. Mas essa ameaça precisa ser identificada claramente. O treinamento visa a reduzir a possibilidade de erro, submetendo o policial a um circuito onde circunstâncias repentinas são apresentadas.
3.Como o Rio pode mudar essa realidade de crescente violência policial?
A solução do problema passa necessariamente pelo treinamento. Em São Paulo, por exemplo, o procedimento padronizado de abordagem tem 14 itens, que vai desde o cumprimento inicial ao agradecimento pela colaboração no final. É importante porque é uma receita de como se faz, algo que é ensinado na academia e passa por supervisão enquanto o soldado está na rua. No Rio, não há procedimento nenhum e o treinamento é precário. O agente não sabe como abordar, não sabe como atirar, o que resulta em situações dramáticas intensificadas pela escassez de supervisão policial. Isso tudo vai ter um impacto na forma como o trabalho é realizado nas ruas. O que faz a polícia atirar repentinamente é medo e despreparo.