O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio, Wadih Damous, elevou neste sábado, 20, o tom de crítica à política de segurança do Estado ao rebater uma entrevista do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) na qual ele defendera a operação da polícia na Favela da Coréia, na zona oeste, que resultou na morte de 12 pessoas, entre elas uma criança de 4 anos, na quarta-feira. "O que se afigura é uma política de extermínio pura e simples, sem qualquer eufemismo", afirmou Damous.Foi uma resposta ao governador, que na véspera afirmara, com ironia, que se pudesse pediria aos criminosos: " Por favor, me devolva o seu fuzil, me devolva a sua .30 que derruba até helicópteros e a sua granada. Vamos fazer um seminário para discutir a devolução desse armamento?' Aí eu ficaria feliz da vida, mas a realidade é outra." Na mesma entrevista, Cabral disse respeitar a opinião da OAB-RJ, mas afirmou que a polícia agiu corretamente. Veja Também: Bandidos não devolvem fuzis, ironiza Cabral Na resposta , Damous afirmou não aceitar "que o ser humano seja tratado como animal de abate, independente do pretexto que o Estado adote para assim agir". O título da nota divulgada à imprensa é "A OAB/RJ não aceita caçadas humanas". Segundo Damous, o que chamou a atenção de todos na operação foi a "caçada promovida pelo helicóptero da polícia a dois fugitivos, aparentemente desarmados, que a custo tentaram escapar da mira dos atiradores, mas ao final sucumbiram". "A OAB-RJ, assim como toda a sociedade, chocou-se com tamanha crueza. E, mais ainda, indignou-se sim com a forma pela qual as forças policiais perseguiram aqueles dois jovens, que, pelas imagens, não exibiam armas, e ainda assim foram caçados e mortos sem qualquer direito de defesa." Segundo ele, é "falsa" a idéia de que a criminalidade somente poderá ser combatida "à margem do ordenamento legal". "Não é aceitável, insistimos, que um aparato policial-militar, mais apropriado para a guerra do que para uma operação policial, faça incursões em comunidades carentes de cidadania e habitadas por milhares de pessoas, e não faça qualquer levantamento prévio de inteligência. E mesmo detentora de tais informações, apenas se afrontada é que a força policial poderá reagir com a mesma intensidade e força. Fora desse contexto, o que se afigura é uma política de extermínio pura e simples, sem qualquer eufemismo." No fim da nota, Damous diz se orgulhar do passado de lutas da OAB contra o arbítrio. "Nós dissemos não à tortura, aos desaparecimentos, aos assassinatos promovidos pelos órgãos de repressão incrustados no Estado brasileiro. E foi assim que ultrapassamos o regime de terror, lançando os alicerces para a construção de uma sociedade melhor. Assim foi no passado e assim será sempre que as garantias individuais, a dignidade humana e os pilares da democracia forem afrontados, como o foram no recente episódio da invasão da favela da Coréia. Não aceitamos, contra tudo e contra todos se for preciso, que o ser humano seja tratado como animal de abate, independente do pretexto que o Estado adote para assim agir. É o nosso compromisso com a civilização e com o futuro de uma sociedade mais justa e decente." Texto atualizado às 18 horas
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