Operação prende 13 e deixa 12 mortos em favela do Rio

Polícia Civil ficou surpresa com o poder de fogo dos traficantes da Favela da Coréia

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Por Talita Figueiredo e Clarissa Thomé
Atualização:

Uma operação que mobilizou 250 policiais civis de delegacias especializadas do Rio terminou nesta quarta-feira com a morte de 12 pessoas - dez acusados de ligação com o tráfico, um policial e uma criança de 4 anos - na favela da Coréia, em Senador Camará, na zona oeste do Rio. A ação durou sete horas e teve, durante todo o tempo, intensas trocas de tiros em diferentes pontos da favela, que é plana e se estende por cerca de cinco quilômetros às margens da estrada do Taquaral. Quatro policiais ficaram feridos e 13 pessoas foram presas. A própria polícia ficou surpresa com o poder de fogo dos traficantes, já que em muitos pontos da favela policiais foram encurralados pelos traficantes e precisaram pedir reforços e munição. O próprio comandante da operação, delegado Allan Turnowski, teve de solicitar o apoio do helicóptero da Polícia Civil para conseguir sair do interior da favela. "A atuação do helicóptero tem que ser muito elogiada. Ele foi usado de forma a não permitir que os traficantes pulassem muros. Em um determinado momento, eles pousaram o helicóptero, desceram para a infantaria e voltaram para o helicóptero para sobrevoar a área", disse Turnowski. O momento mais tenso da operação aconteceu por volta das 11h. Policiais trocavam tiros com traficantes que se escondiam dentro de uma casa, no trecho da favela conhecido como Mangueiral. Na casa ao lado, estava Jorge Cauã Lacerda, 4, que foi baleado na barriga. A mãe do menino tentou tirá-lo de casa, mas ficou na linha de tiro. Um policial pegou a criança no colo e correu até a ambulância que dava suporte à operação. "Eu corri, mas eles mandaram bala mesmo eu estando com o menino no colo. Caí e torci o pé. Consegui pedir ajuda a outros colegas, mas não tinha jeito. Ele sangrava muito", contou o policial que não quis se identificar, com a calça jeans coberta do sangue do menino. No mesmo local, o inspetor Sérgio Silva Coelho, 43, foi baleado e morreu. Também agente Gilberto Barbosa, 51, foi atingido por um tiro de fuzil na mão e perdeu um dedo. E ainda o delegado titular da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), Rodrigo Oliveira, foi atingido por dois tiros. Um deles transfixou o pescoço a um centímetro da coluna cervical. O outro ficou alojado no colete à prova de balas. "A operação parar mim foi a pior possível. Um colega morreu, essa criança também e ainda teve o ferimento do delegado Oliveira. Os traficantes resistiram muito, tinham muito poder de fogo. Atiravam no helicóptero, que não conseguia chegar perto da casamata no alto da Vila Aliança", disse um policial da Core, que também ajudou no socorro do menino. Durante a operação, foram apreendidos pela polícia uma metralhadora ponto 30, cinco fuzis, seis pistolas, quatro granadas e munição. Segundo o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, a operação cumpriu parte do objetivo, que era encontrar um paiol de armas na favela. "Os blindados estão cravejados de munição ponto 30. Não é possível que esse tipo de armamento e de pessoas sem compromisso com a vida, transitem pelo Rio de Janeiro com essa mercadoria. Não queremos usar a política do fuzil, mas vamos ao encalço do material e dos traficantes. Mas a polícia, ao cumprir seu dever, é rechaçada a bala . Isso não vai nos intimidar", afirmou. No fim da tarde, foram colocadas fitas pretas em parte dos 90 carros da polícia que participaram da operação, em homenagem ao policial morto. O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) afirmou que a polícia estava lá "para defender os inocentes e livrar a comunidade da barbárie". Segundo ele, o combate será permanente. "O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, tem carta branca para agir e o meu estímulo para que trabalhe cada vez mais nessa direção", declarou. "Não tem mágica. É um trabalho que começou e não vai parar, de combate à militarização. São criminosos que deixam toda a cidade em pânico e temos que combatê-los." Colaborou Felipe Werneck.

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