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'Ouvi um estalo, vi o teto caindo e me joguei embaixo do banco', diz motorista de ônibus no Rio

Após desabamento de parte de túnel que liga a Gávea a São Conrado, estágio de crise foi decretado por conta da mobilidade reduzida da população

Foto do author Marcio Dolzan
Por Marcio Dolzan
Atualização:

O desabamento de parte do teto do túnel Rafael Mascarenhas, que liga a Gávea a São Conrado, atingiu a parte dianteira de um ônibus que fazia o trajeto São Conrado – Rodoviária. Ninguém ficou ferido. O motorista do ônibus, Thiago dos Santos Viana, de 28 anos, contou que estava engarrafado quando notou que muito barro estava deslizando das encostas para dentro do túnel.

"Era muito barro caindo", conta. "Liguei a seta para tentar desviar, mas ninguém me dava passagem. Até que joguei o ônibus que ficou atravessado na pista e ninguém mais passou. Quando eu ia contornar o barro pra passar, ouvi um estalo e começou a cair tudo, o teto do túnel. Me joguei embaixo do banco."

Thiago dos Santos Viana contou que viu muito barro deslizando das encostas para dentro do túnel Foto: Marcio Dolzan/Estadão

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Os bombeiros estão no local e, por enquanto, não há informações sobre feridos. A Defesa Civil já foi acionada e deverá avaliar se há risco de novos desabamentos. O túnel passa por baixo do Minhocão, um prédio de moradores. Um deslizamento de terra pode ter provocado o desabamento.

Como o motorista atravessou o ônibus na pista na tentativa de desviar do barro, acabou bloqueando a passagem dos carros e motos que vinham atrás. "Acabei ajudando porque todo mundo foi obrigado a parar", disse.

O motorista contou que pulou a roleta, abriu a porta de trás do ônibus e ajudou os dois passageiros a saírem. "Vamos sair daqui porque pode cair mais coisa", eu disse para eles. Para Thiago, não foi sorte. "Foi livramento de Deus".

Estágio de crise

Após o desabamento da estrutura, o estágio de crise foi decretado às 12h35 por conta da mobilidade reduzida da população. Além do túnel, a Avenida Niemeyer, que também liga a zona sul à zona oeste, está interditada desde o fim da tarde desta quinta-feira, 16, por conta de um deslizamento de encosta provocado pela chuva.

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O acesso só pode ser feito pelo Alto da Boa Vista, a Linha Amarela e a Grajau-Jacarepaguá. A cidade já estava em estágio de atenção por conta da chuva.

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, pediu aos servidores públicos municipais que encerrem o expediente mais cedo, a fim de evitar sobrecarga no trânsito no horário do rush, no fim da tarde. 

Túnel Rafael Mascarenhas desaba após forte chuva no Rio Foto: Mauro Pimentel/AFP

Em vídeo divulgado no Twitter, Crivella também fez um apelo para que moradores da zona sul e da Barra da Tijuca permaneçam, se possível, em casa, como forma de evitar mais problemas no trânsito. Crivella disse que a prefeitura já está empenhada para realizar o escoramento da estrutura que desabou e a retirada do entulho no local.

O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das enchentes na Câmara dos Vereadores do Rio, Tarcísio Motta (PSOL) afirmou que a Geo-Rio está sem condições de atender as necessidades da cidade.

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O órgão da Prefeitura é responsável pelo monitoramento e contenção de encostas. O deslizamento de uma encosta provocou o desabamento de parte do teto do túnel Acústico Rafael Mascarenhas no início da tarde desta sexta-feira.

"Faltam servidores, viaturas para as vistorias, articulação entre os órgãos da prefeitura, orientação de prioridades, orçamento e planejamento. A Geo-Rio está sem condições de atender as necessidades da cidade", afirmou o vereador, depois de ouvir o depoimento do presidente da GEO-Rio, Herbem da Silva Maia.

A sessão, ocorrida na tarde de quinta-feira, também contou com as presenças dos técnicos da Geo-Rio Ricardo Neiva D'Orsi e Ernesto Ferreira, que foram perguntados sobre suas condições de trabalho e ações sobre a manutenção e contenção de encostas, estudos sobre áreas de risco, sistemas de alerta e de alarme sonoro e protocolo de interdição de vias. 

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Apesar de afirmar que o orçamento da instituição atende à demanda da cidade, Maia informou à CPI que há apenas quatro viaturas para a realização de vistorias em todo o município, que mais da metade do quadro de servidores da Geo-Rio vai se aposentar nos próximos dez anos e que não há um mapeamento geotécnico da zona oeste.

"Ficou claro que é preciso mais recursos para uma série de ações, como estender o sistema de alarme pra zona oeste e revisar o protocolo de interdição de vias, além de estendê-lo para outras áreas. A Geo-Rio está refém de governos que não consideram a prevenção de enchentes e deslizamentos uma política de estado. Não é possível que a Geo-Rio seja um órgão tão pequeno com uma função gigante", disse o vereador.

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