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Polícia do Rio cumpre mandados de busca e apreensão de ativistas

Elisa Quadros, conhecida como Sininho, e outras nove pessoas foram conduzidas à Cidade da Polícia, na zona norte

Por Tiago Rogero
Atualização:

Atualizada às 21h01

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RIO - Um dia antes do início da Copa do Mundo, com pelo menos dois protestos contra a competição marcados para esta quinta-feira, 12, no Rio, dez ativistas de presença constante nas manifestações tiveram os computadores e celulares apreendidos e foram levados ontem para a delegacia para prestar depoimento durante todo o dia. Entre eles estava a ativista Elisa Quadros, a Sininho, que ficou conhecida após os protestos do ano passado. 

A polícia fez a operação logo cedo, por volta das 6h, para o cumprimento de 17 mandados de busca e apreensão nas casas de “pessoas investigadas por participação direta ou indireta em prática de atos violentos durante protestos”, informou em nota a corporação. 

Sininho estava entre os conduzidos à Delegacia de Repressão a Crimes de Internet (DRCI). Ao contrário dos demais ativistas, que passaram o dia na Cidade da Polícia, no Jacaré, zona norte do Rio, Sininho foi embora às 13h e teve o depoimento remarcado para sexta-feira, 13, às 10h30. 

Ela tinha de participar como testemunha de audiência na Auditoria da Justiça Militar no processo que o major Fábio Pinto Gonçalves e o primeiro tenente Bruno César Andrade Ferreira respondem por constrangimento ilegal. Em setembro de 2013, os dois PMs foram flagrados em vídeo forjando um flagrante de posse de explosivo contra um manifestante. 

Os advogados de Sininho e outros ativistas disseram que sete pessoas foram levadas à delegacia para depor (entre elas um menor, de 17 anos). A polícia, em nota, informou que eram dez. 

“A intenção do Estado neste momento é estabelecer a prova, que eles não vão conseguir porque não existe, da tal organização ou associação criminosa”, disse o defensor de Sininho, Marino D’Icarahy, que ontem representava outros dois ativistas, Eduarda Castro e Thiago Rocha. 

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Foram apreendidos computadores, tablets, smartphones, pen drives, HDs, roupas, máscaras (como a de Guy Fawkes, popularizada nos protestos e pelo grupo Anonymous), bandanas e até um taco de softbol (parecido com o de beisebol), que uma das ativistas informou usar há 20 anos para praticar o esporte. 

‘Incitação à violência’. A polícia não divulgou detalhes sobre a operação ou teor (e objetivo) dos depoimentos. Informou apenas que as investigações continuam e o inquérito está sob segredo de Justiça. “A ação é um desdobramento do inquérito da DRCI que, em 4 de setembro do ano passado, prendeu e indiciou três homens por formação de quadrilha e incitação à violência.” 

Para o advogado de Sininho, a escolha da véspera da abertura da Copa do Mundo para realizar a operação não foi nenhum acaso. “Não existem coincidências. Foi tudo programado, de caso pensado, parte de um processo de intimidação e criminalização do ativismo político”, afirmou. 

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Preocupação. A Anistia Internacional divulgou nota em que demonstra preocupação com iniciativas da Secretaria de Segurança do Rio que “possam intimidar manifestantes” durante a Copa. No documento, a ONG também questiona a decisão da Fifa de negar trânsito livre para a Defensoria Pública em locais de competição, como é o caso do Estádio do Maracanã. 

“A Anistia Internacional espera que, durante o período dos jogos, manifestantes não sofram nenhum tipo de intimidação ou represália. A liberdade de expressão e manifestação pacífica são um direito humano e devem ser garantidos pelo Estado brasileiro durante a Copa”, escreveu o diretor executivo da entidade no País, Atila Roque. / COLABOROU FELIPE WERNECK

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