Polícia tenta acordo com ex-PM para informações sobre morte de Marielle

Delegado Giniton Lages esteve em Bangu 1 na quinta-feira para encontrar Orlando Oliveira de Araújo, que segundo uma testemunha teria ligação com os assassinatos. Defesa diz que houve tentativa de coação

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Por Roberta Jansen
Atualização:

RIO - Autoridades de segurança responsáveis pela investigação dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes tentam negociar um acordo de colaboração premiada com o ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando de Curicica. Suspeito de chefiar uma milícia, ele é acusado de ser um dos mandantes dos crimes, ocorridos em 14 de março, e está preso por causa de outro homicídio. Na noite de quinta-feira, 10, o delegado Giniton Lages, da Delegacia de Homicídios, esteve em Bangu 1, segundo a Polícia, para conversar com Araújo. O promotor Homero das Neves confirmou que também pretende conversar com Araújo na semana que vem.

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Apontado por uma testemunha como um dos articuladores dasmortes de Marielle e Anderson, Araújo acusou o delegado de ameaçá-lo para que confessasse a participação na execução da parlamentar. A informação é do advogado Renato Darlan, que esteve com Araújo na manhã da sexta-feira, 11. Segundo o advogado, não se trata da negociação de um acordo, até porque Araújo já negou participação no crime, mas, sim, de coação.  

“Ontem à noite (quinta-feira), o Araujo recebeu a visita do delegado da Divisão de Homicídios, em Bangu, que claramente o ameaçou”, contou Darlan. “Giniton disse que ele deveria assumir esse homicídio (de Marielle) e que, desta forma, poderiam prender o vereador (Marcello Siciliano) e dar a ele (Araujo) o perdão judicial. Caso contrário, mais dois homicídios seriam colocados na conta dele, e ele ainda seria transferido para (o presídio federal de) Mossoró.”

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A Secretaria de Segurança confirmou que o delegado esteve na unidade “para ouvir o preso sobre o homicídio da vereadora”. Em nota, a secretaria informou ainda que “mesmo após ter pedido a presença do delegado, o detento disse que não prestaria depoimento formal. O delegado explicou ao preso quais são os seus direitos e propôs que conversasse com o advogado antes de tomar uma decisão.”

Uma testemunha do caso ouvida pelo jornal O Globo disse que o assassinato da vereadora foi tramado pelo vereador Marcello Siciliano (PHS) juntamente com Araujo. Siciliano negou envolvimentoe classificou as acusações de “factoides”. Araújo, por sua vez, divulgou uma carta negando participação no caso e qualquer envolvimento com a milícia da zona oeste.

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O ex-PM estava preso preventivamente em Bangu 9, acusado de um assassinato com características de execução semelhantes às do crime de Marielle e Anderson e também por posse ilegal de arma. Segundo investigações do Ministério Público, Araújo é miliciano conhecido e atua na área de Curicica, na zona oeste. Sua defesa sustenta, no entanto, que ele é apenas um líder comunitário.

Na noite de quarta-feira, logo depois da divulgação das acusações, Araújo foi transferido de Bangu 9 para Bangu 1, que é um presídio de segurança máxima. O advogado Renato Darlan afirmou que seu cliente está sem comer desde a noite da transferência porque, tendo sido ameaçado de morte no presídio, só se alimentava com refeições vindas de fora. Teme ser envenenado. Em Bangu 1, no entanto, só é permitido aos presos comer a comida da prisão. Agora, diz Darlan, ele está sendo ameaçado. A defesa de Araújo informou que pretende pedir a sua transferência para a carceragem da Divisão Anti-Sequestro por motivo de segurança.

“Não foi uma proposta, foi uma ameaça: ou você fala ou você fala, ou você assume ou você assume”, afirmou Darlan, referindo-se à conversa entre Araujo e Giniton. “O Orlando (Araújo) não tem nada a ver com esse caso, não tem condenação; então ele não tem o que negociar. E quando tentam imputar um crime que o sujeito não cometeu em troca de um benefício, não vejo troca alguma.”

Segundo o advogado, o delegado teria dito que se Araújo não colaborasse com as investigações, seria acusado também do assassinato de Alexandre Pereira, um colaborador de Marcello Siciliano e morto em Curicica, na zona oeste, no último dia 9 de abril. Outro assassinato cuja autoria lhe seria atribuída seria de outro homem na mesma região, conhecido como André.

Para Darlan, a transferência para um presídio de segurança máxima já foi uma forma de pressão psicológica sobre o seu cliente. “Em Bangu 1 ele não tem banho de sol, não tem cigarro, nada disso. É uma pressão psicológica imensa. Além disso, ele não está comendo por causa da ameaça de envenenamento.”

A Secretaria de Segurança informou que a transferência de Araújo já estava pedida desde o dia 25 de abril, “por conta de condutas criminosas que lhe são imputadas em outras investigações”.

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