Política de segurança do Rio mira confronto, sem estratégia nem fiscalização; leia análise

O sangue derramado de vítimas, suspeitos ou policiais, não pode ser usado como justificativa moral ou política

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Por Renato Sérgio de Lima
Atualização:

Ninguém ignora que facções de base prisional e milícias estejam na maioria das favelas e comunidades do Rio. Em mais de 50 anos de "guerra contra o crime" conseguimos, no máximo, agravar o quadro de medo e criminalidade. No lugar de sermos mais inteligentes que o crime organizado, nos rebaixamos a ele e amontoamos corpos, quase todos negros e pobres. 

Os fuzis nas mãos do crime não são, na maioria, produzidos no Brasil. Chegam às favelas cariocas em números crescentes e, em vez de investigarmos e interrompermos rotas, coloca-se população e policiais na mira das armas. A opção pelo confronto aberto não é inevitável. O sangue derramado de vítimas, suspeitos ou policiais, não pode ser usado como justificativa moral ou política.

Operação especial da polícia em favela no Rio Foto: Dado Galdieri/The New York Times

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Ainda há o agravante de soar como desobediência à ordem do STF contra incursões policiais no Rio na pandemia. A polícia investigará a si própria com isenção? Qual o papel do Ministério Público, que extinguiu este ano o grupo de controle da atividade policial? Quase só há fiscalização de condutas individuais de policiais e nenhum controle de protocolos e cadeia de comando que fazem policiais subir morros para matar e morrer. Isso se soma à extinção da Secretaria de Segurança na gestão Wilson Witzel. Não há coordenação tático-operacional, supervisão e controle externo. Mas há a banalização do confronto e da violência.

*É DIRETOR-PRESIDENTE DO FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

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