Sequestrador de ônibus na Ponte Rio-Niterói é morto pela polícia do Rio

Homem mantinha reféns desde as 5h30 e foi alvejado por snipers da polícia; ação durou cerca de quatro horas

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Por Ana Paula Niederauer, Roberta Jansen e Bianca Gomes
6 min de leitura

RIO E SÃO PAULO - Um homem que fazia passageiros de um ônibus da Viação Galo Branco reféns na Ponte Rio-Niterói na manhã desta terça-feira, 20, foi morto por atiradores de elite da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. O sequestro se iniciou por volta das 5h30 e durou cerca de quatro horas. A arma usada era de brinquedo. Os passageiros foram libertados - nenhum dos 37 reféns ficou ferido.

O sequestro ao ônibus da Viação Galo Branco se iniciou por volta das 5h30 Foto: Antonio Lacerda/EFE

O sequestrador foi identificado como William Augusto da Silva, de 20 anos. Ele afirmou que era policial, mas a informação foi negada pelo governo do Rio. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Estado, Silva chegou ao Hospital Municipal Souza Aguiar com parada cardiorrespiratória e foi constatado o óbito pela equipe médica.

Depois da morte do sequestrador, o governador Wilson Witzel (PSC) foi à Ponte Rio-Niterói de helicóptero, abraçou os policiais e vibrou com a ação dos agentes de segurança. Em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que "não tem que ter pena do sequestrador".

"Primeiro, eu quero agradecer a Deus. Não foi a melhor solução possível, o ideal era que todos saíssem com vida, mas tomamos a decisão de salvar os reféns", afirmou Witzel. "(Tomamos a decisão de) solucionar o problema rapidamente, foi um trabalho muito técnico da polícia, que usou atiradores de elite. Eu fiquei monitorando o tempo todo."

O sequestrador do ônibus se identificou como policial militar para entrar coletivo, na Ponte Rio-Niterói Foto: Antonio Lacerda/EFE

Witzel disse que conversou com parentes do sequestrador, que pediram desculpas à população e aos reféns por seu comportamento. "Falaram que houve uma falha na educação, a mãe dele estava chorando muito", disse o governador. 

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O governador informou que a recém-criada Secretaria de Vitimização irá cuidar não apenas dos 37 reféns, mas também da família do homem morto.

No início da tarde, Witzel aproveitou a coletiva de imprensa sobre o sequestro do ônibus na ponte para fazer uma longa e inflamada defesa de sua política de segurança. Ele comparou a execução de bandidos com fuzis no meio das comunidades superpovoadas ao que aconteceu na manhã desta terça-feira.

Ao desembarcar do helicóptero na Ponte Rio-Niterói, o governador Wilson Witzel (PSC) comemorou a ação que culminou na libertação dos reféns e na morte do sequestrador do ônibus Foto: Antonio Lacerda/EFE

"Foi um trabalho de excelência. Se a PM não tivesse abatido o criminoso, muitas vidas não teriam sido poupadas. E é isso que está acontecendo nas comunidades: se a polícia puder abater quem está de fuzil, muitas vidas serão poupadas", disse. "Fizemos a oração do Pai Nosso junto com as vítimas e oramos pelo criminoso que morreu."

O governador frisou que, ao descer do helicóptero na ponte, sua comemoração não foi pela morte do sequestrador, mas, sim, pelo fato de 37 pessoas terem sido salvas. Witzel vibrou de punhos fechados e sorrindo, antes de abraçar o comandante da PM no local. "Não pude me conter", afirmou.

O governador Wilson Witzel (PSC) aproveitou a coletiva de imprensa sobre o sequestro do ônibus na ponte para fazer uma longa e inflamada defesa de sua política de segurança Foto: Wilton Júnior/Estadão

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Já o porta-voz da PM fluminense, coronel Mauro Fliess, considerou a ação policial bem-sucedida e parabenizou os agentes envolvidos na ocorrência.

"Essa é a polícia que queremos ver. Foi necessário o disparo de um sniper para neutralizar o marginal e salvar todas as pessoas do ônibus. Estamos prestando toda a atenção à saúde dos reféns e agindo com solidariedade. Parabenizo todos os envolvidos", afirmou o porta-voz. "Nenhum refém ferido, eles estão recebendo atendimentos médicos e psicológicos em caso de necessidade. Mas nenhum ferimento."

A arma do sequestrador era de brinquedo, mas, de acordo com a polícia, ele havia pendurado várias garrafas pet cheias de gasolina dentro do ônibus e tinha um isqueiro em mãos. Ele fez diferentes ameaças, como de atear fogo no ônibus, se jogar da ponte com um refém ou mesmo matar dez reféns. Segundo a polícia, ele não tinha antecedentes criminais e era psicótico.

Agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) orienta motorista na Ponte Rio-Niterói, que foi bloqueada por causa do sequestro a um ônibus Foto: Ricardo Moraes/Reuters

A Ponte Rio-Niterói foi totalmente interditada no sentido Rio. Agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), da Polícia Militar, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e do Corpo de Bombeiros cercaram o veículo, que ficou parado na altura do Vão Central. Viaturas dos bombeiros chegaram ao local por volta das 7h10. 

Veja o momento em que o sequestrador é alvejado pelos policiais militares

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Em entrevista ao Bom Dia Rio, a mulher de um dos reféns contou que o marido lhe avisou do sequestro. "Sempre roubam carteira e celular, mas esse tipo de coisa nunca aconteceu", destacou Eliziane Terra. "Ele saiu para trabalhar 4h30. Quando foi por volta de 5h26 ele me mandou uma mensagem dizendo que o ônibus estava sendo sequestrado: 'Estamos indo para a ponte'. A princípio eu pensei que era um assalto. Eu levantei, acordei o meu filho e disse: 'Seu pai está sendo assaltado'", revelou.

Sequestro na ponte Rio-Niterói ocorreu na altura do Vão Central Foto: Centro de Operações Rio/Facebook

A linha de ônibus 2520D da Viação Galo Branco saiu do Jardim Alcântara, em São Gonçalo, em direção a Estácio, na região central do Rio.

Sequestro do ônibus 174, em 2000

A ocorrência desta terça fez relembrar o sequestro ao ônibus da linha 174, no Jardim Botânico, na zona sul do Rio, há 19 anos. Transmitida pela televisão ao vivo para todo o País, a ação durou mais de quatro horas e terminou com a morte de uma passageira - a professora Geísa Firmo Gonçalves - e do sequestrador Sandro Barbosa Nascimento.

Correções

O texto foi atualizado às 14h30 desta terça-feira, 20, pois a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro corrigiu a informação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que mais cedo havia divulgado que o sequestrador tinha sido preso por estupro, porte ilegal de arma de fogo, tentativa de furto e pela Lei Maria da Penha. De acordo com a Polícia Civil, William Augusto da Silva não tinha antecedentes criminais. Uma versão anterior desta matéria informava incorretamente o nome do sequestrador. O nome correto é William Augusto da Silva, e não William Augusto do Nascimento como anteriormente informado.   

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