Programa de UPPs muda pela 3ª vez em 5 anos sem cumprir metas

Governador Luiz Fernando Pezão reconhece a necessidade de 'realinhar e ajustar as políticas públicas' nessas comunidades

PUBLICIDADE

Por Felipe Werneck
Atualização:

RIO- Lançado em 2010 pelo governo do Rio com o objetivo de levar ações sociais, culturais e ambientais às comunidades que receberam Unidades de Polícia Pacificadora, o programa UPP Social vai mudar pela terceira vez em cinco anos sem ter cumprido nenhuma de suas metas.

Em decreto publicado nesta sexta-feira, 6, no Diário Oficial, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) reconhece a necessidade de "realinhar e ajustar as políticas públicas" nessas comunidades. O documento estabelece prazo de 90 dias para que "planos setoriais" sejam encaminhados ao gabinete do governador pelos responsáveis por 14 secretarias de Estado.

Favela da Rocinha, no Rio Foto: Fábio Motta/Estadão

PUBLICIDADE

A cientista social Silvia Ramos, que foi responsável pela coordenação das dez primeiras UPPs Sociais, em 2010, diz que a notícia é "importante e parece acertar contas com o passado, no sentido de assegurar na lei, pela primeira vez, os parâmetros e objetivos finais do que eles chamam de 'pacificação', incluindo a participação da sociedade e as metas de integração social". "Outra novidade importante é estabelecer uma comissão permanente de monitoramento e avaliação, reconhecendo que os processos nas favelas que recebem UPPs são muito heterogêneos e muitas vezes desiguais, com investimentos e obras como as do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em algumas e muito pouco em outras áreas menos favorecidas".

Fracasso. Coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), Silvia afirma que as tentativas anteriores esbarraram em obstáculos que levaram ao fracasso do programa. "O governador e o prefeito não deram poder a gestores que pudessem coordenar, articular e hierarquizar as ações de várias secretarias e empresas públicas nos territórios. Cada secretário agia com suas próprias prioridades e tantas vezes víamos projetos superpostos, metas contraditórias e agendas internas de cada setor."

Agora, com o governador assumindo a coordenação, ela diz que "todos sabem de quem deve ser cobrada a tão esperada política social para as favelas do Rio". Mas a pesquisadora destaca um problema: quem vai coordenar as ações que são obrigação do município, como a coleta de lixo? O decreto prevê a possibilidade de parcerias com organizações não-governamentais e com o setor privado.

Concebido pelo economista Ricardo Henriques, um dos criadores do Bolsa Família, o programa UPP Social foi lançado em agosto de 2010. Quatro meses depois, Henriques foi exonerado pelo então governador Sérgio Cabral (PMDB), que nomeou um político para o cargo. Em 2011, o programa foi transferido para a prefeitura e recebeu outro nome: UPP Social Carioca. Henriques foi convidado para tocar o projeto, mas em maio de 2012 acabou substituído por Eduarda La Rocque. O nome do programa mudou mais uma vez, para Rio+Social. Agora, o decreto de Pezão fala em "Ocupação Social". Eduarda foi procurada, mas assessores informaram que ela estava nos Estados Unidos e não poderia dar entrevista.

O documento que aponta mudanças na chamada "política de pacificação" foi assinado em meio a mais uma crise na segurança pública. Desde o início do programa das UPPs, em dezembro de 2008, o número oficial de mortes em alegados confrontos com policiais no Estado aumentou pela primeira vez em 2014. Foram 582 "homicídios decorrentes de intervenção policial" no ano passado, alta de 40% em relação a 2013. Os homicídios dolosos (intencionais) aumentaram 4% e os roubos de rua cresceram 33% no mesmo período.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.