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Real Gabinete sofre com superlotação

Com 350 mil volumes, maior biblioteca de autores portugueses fora daquele país depende da reforma de anexo para acomodar novas obras

Por Danielle Villela
Atualização:

RIO DE JANEIRO - Mesmo com a aquisição de um prédio contíguo, em 1992, para abrigar o acervo em crescimento, não há mais espaço livre no Real Gabinete Português de Leitura, a maior biblioteca de obras de autores portugueses fora de Portugal, localizada no centro do Rio. Para acomodar novos livros à coleção de cerca de 350 mil volumes, a instituição filantrópica agora depende da reforma do segundo anexo, adquirido há quatro anos, ao lado da imponente sede na Rua Luís de Camões. 

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São tempos, porém, de austeridade no Real Gabinete, listado entre as mais belas bibliotecas do mundo pela Forbes Brasil neste mês. As obras do novo anexo só começarão após o término da reforma da claraboia do Salão de Leitura, previsto para daqui a seis meses. “Não recebemos recursos financeiros do governo, nos mantemos com recursos próprios”, diz Antonio Gomes da Costa, presidente do Gabinete. Apesar das obras, o local segue aberto ao público. 

As despesas mensais, entre R$ 80 mil e R$ 100 mil, são cobertas com o dinheiro das mensalidades dos cerca de 2 mil associados, doações e recursos arrecadados com a cessão de espaços para filmagens de comerciais e programas de televisão. Segundo Costa, a instituição costumava receber mais recursos da elite da colônia portuguesa. “Os grandes homens ricos que mantinham isso aqui.”

Também têm minguado os leitores. “Agora vêm muito mais turistas. Os guias e as agências nos descobriram”, diz Costa. Em 2014, foram cerca de 40 mil visitantes, atraídos pela beleza do prédio em estilo neomanuelino, do português Raphael da Silva e Castro. A fachada, em pedra de lioz, foi importada e talhada no Alentejo, em Portugal. Estátuas de Luís de Camões, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e do infante d. Henrique também compõem a fachada. “Há quem passe e se benze, pensando que é uma igreja”. No interior, impressionam as paredes repletas de livros em três patamares do Salão de Leitura e seu enorme lustre, rebaixado pela reforma na claraboia.

Origem. Fundado por advogados e comerciantes portugueses em 14 de maio de 1837, o Real Gabinete passou por vários endereços no centro antes de ter a pedra fundamental da atual sede lançada por d. Pedro II, em 10 de junho de 1880. O prédio foi inaugurado em setembro de 1887, com presença da princesa Isabel. O empréstimo gratuito de livros era restrito aos patrícios.

A biblioteca abriu ao público em 1900. Hoje, os principais frequentadores são professores e estudantes das áreas de Letras e História. “Venho em busca de documentos e obras das antigas colônias portuguesas, o que não encontro nas universidades”, diz Maurício da Silva, de 32 anos, natural de Guiné-Bissau, morador do Rio há oito anos, mestrando em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Sociologia pela Federal Fluminense (UFF).

O acervo da biblioteca inclui raridades, como um exemplar da primeira edição de Os Lusíadas, de 1572, de Luís Vaz de Camões, e manuscritos de Eça de Queiroz e Machado de Assis.

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Exemplares de novas publicações continuam sendo enviados pela Biblioteca Nacional de Portugal por meio do estatuto do “depósito legal”, pelo qual todo livro publicado em território português é remetido para o Gabinete. Sinal de que mais espaço será preciso.

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