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Rio: 15 crianças foram vítimas de bala perdida

Balanço é de 2018; caso mais recente foi de bebê atingido no colo da mãe na porta de escola

Por Roberta Jansen , Roberta Pennafort e Fabio Grellet
Atualização:

RIO - Atingido por uma bala perdida no ombro, o bebê Caíque de Carvalho, de 6 meses, foi a décima quinta criança alvejada em 2018 na região metropolitana do Rio, onde houve em média 24 disparos por dia no período, segundo o aplicativo Fogo Cruzado. Após ser baleado quando estava no colo da mãe na noite de anteontem, o bebê foi submetido a uma cirurgia e está fora de perigo. Ontem, o pai do garoto, Carlos Figueiredo, fez em uma rede social um desabafo contra a violência no Estado.

+ Polícia não sabe de onde partiu tiro que feriu bebê em escola

Caique não corre risco de vida e passou o dia sob os cuidados da família Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

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“Nem na escola e no aconchegante colo da mãe nossos filhos estão livres do perigo”, escreveu Figueiredo. Caíque foi baleado quando estava em um ambiente supostamente seguro, o Colégio São Vicente de Paulo, escola particular no Cosme Velho, zona sul. Na noite de anteontem, sua mãe o tinha nos braços enquanto esperava pelo irmão do bebê, de 6 anos. O garoto mais velho estava em uma aula de futebol. Ninguém relatou ter ouvido tiroteio próximo da escola.

A polícia ainda não sabe de onde partiu o disparo. O colégio fica a um quilômetro da Favela do Cerro Corá, mas não havia troca de tiros na comunidade no momento da ocorrência, segundo policiais. A escola também afirmou que não houve registro de ações envolvendo tiros no entorno. Ainda não se sabe de qual tipo de armamento veio o projétil.

Caíque está internado no Centro Pediátrico da Lagoa, onde foi submetido a cirurgia de mais de duas horas. O quadro é estável e ele movimenta os quatro membros. “A bala entrou pelo ombro e se alojou perto da medula, daí os cuidado para retirá-la”, afirmou Gina Sgorlon, diretora do Prontobaby, rede que controla o Centro Pediátrico. A família, abalada, não quis dar entrevista. 

Entre os pais de outras crianças do Colégio São Vicente, o ambiente ontem era de consternação e medo. “Uma bala perdida em casa ou numa escola assusta porque esses são territórios que consideramos sagrados, onde deveríamos estar todos protegidos”, disse Claudia Lamego, mãe de um aluno de 9 anos, que não foi à aula ontem. 

Em nota, o São Vicente disse estar em atividade há 59 anos e ter sido “abruptamente inserido no mapa da violência que assola o Estado do Rio”.

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Números. Segundo o app Fogo Cruzado, entre 1.º de janeiro e as 11 horas de ontem, foram registrados 3.269 tiroteios ou disparos de armas de fogo na região metropolitana, média de um por hora. Foram relatados 596 mortos e 505 feridos no período. Em 484 casos, havia presença policial (em operações, ações e assaltos a agentes, por exemplo). O aplicativo analisa dados da violência armada e os divulga por meio de um mapa colaborativo. O bairro campeão de disparos entre janeiro e abril foi a Praça Seca, na zona oeste, com 120 registros. 

Em seguida, vem Cidade de Deus (108), na zona oeste; Complexo do Alemão (78), na zona norte e Rocinha (76),na zona sul carioca. O Cosme Velho é um bairro de classe média onde não são registradas ocorrências policiais com frequência.  Em 16 de fevereiro, o governo federal decretou intervenção na segurança do Rio. Depois disso, as polícias estão sob comando das Forças Armadas. 

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