Rio de Janeiro já usa volume morto do Reservatório Paraibuna

Governador nega hipótese de racionamento para a população, mas secretário admite reflexos no abastecimento de grandes indústrias

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Por Redação
Atualização:

Atualizada às 23h30

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RIO - O nível do reservatório de Paraibuna, o maior dos quatro que abastecem o Estado do Rio, chegou a zero pela primeira vez nesta quinta-feira, 22, segundo boletim do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Isso fez com que seu volume morto (não operacional) tenha começado a ser usado, o que é inédito.

O secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, reconheceu que se trata da “maior crise hídrica da história do Sudeste” e já admite reflexos no abastecimento de indústrias como a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) e a Gerdau, em Santa Cruz, na zona oeste. O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), entretanto, continua negando a hipótese de racionamento para a população.

O volume morto do Paraibuna acumula 2,1 trilhões de litros. Segundo técnicos da Secretaria do Ambiente, a reserva acumulada no fundo do Paraibuna seria suficiente para abastecer a região metropolitana do Rio por cerca de seis meses.

Em nota, a Agência Nacional de Águas (ANA) informou que “o volume total de água acessível por gravidade ainda está sendo estudado pelo ONS e pelo operador do reservatório”. A ANA acrescentou que “oportunamente fará a divulgação de novas regras de utilização do reservatório, caso elas sejam modificadas, em articulação com o ONS, os órgãos gestores dos Estados que compartilham a bacia (SP, RJ e MG) e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul”. Segundo Corrêa, ainda não há previsão, “mas é possível que ao longo da semana a ANA mexa nas vazões”.

 

A bacia do Rio Paraíba do Sul abrange 184 municípios, sendo 88 em Minas Gerais, 57 no Rio de Janeiro e 39 em São Paulo Foto: Luis Moura

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 O engenheiro Paulo Carneiro, que coordenou o Plano Estadual de Recursos Hídricos em 2014, aponta, porém, dificuldades no uso do volume morto, que não foi projetado para substituir a vazão do rio. “As válvulas de fundo foram projetadas para funcionar com o reservatório cheio e os órgãos gestores ainda não informaram quando e como a água será retirada, nem qual será a vazão”, disse Carneiro, que é pesquisador do Laboratório de Hidrologia da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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De acordo com a ANA, não serão necessárias obras para acessar o volume abaixo do limite operacional, como ocorreu no caso do Sistema Cantareira, onde foram necessárias obras para a instalação de bombas.

Outros três reservatórios integram o sistema: Santa Branca, Jaguari e Funil. “Do ponto de vista operacional da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), não muda nada. O uso do volume morto já era esperado. Mas empresas que já deveriam ter feito o dever de casa podem ser prejudicadas”, afirmou o secretário, referindo-se ao alto consumo. Indagado pela reportagem, ele citou apenas a CSA e a Gerdau.

Sobretaxa. Ressaltando que se trata de uma “posição pessoal” ainda em discussão no governo, Corrêa defendeu um novo modelo de cobrança pelo uso da água, com descontos para quem consome menos e sobretaxa para quem consome mais. “Reforço o apelo para que a população gaste menos água”, declarou. A Cedae sustenta, porém, que “já pratica uma tarifa progressiva”, apesar de a maioria pagar um valor básico fixo. A Bacia do Rio Paraíba do Sul abrange 184 municípios.

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