
26 de janeiro de 2015 | 18h48
Atualizada às 22h30
Pelo menos 14 pessoas foram feridas por balas perdidas na região metropolitana do Rio de Janeiro desde o último dia 17. Doze casos aconteceram na capital, um na cidade de Niterói e outro no município de São Gonçalo. Quatro pessoas morreram, entre elas duas crianças de 4 e 9 anos.
Confira quem são as vítimas
Nesses dez dias, nenhuma autoria dos disparos foi identificada até agora pela Polícia Civil. Ao menos dois episódios ocorreram perto de locais onde havia tiroteio entre policiais e criminosos. Nos demais, os disparos sem direção provavelmente foram feitos por criminosos, que têm disputado a tiros o controle dos pontos de venda de drogas em favelas. Confira quem são as vítimas.
“Essas balas perdidas foram, na maioria das vezes, provocadas por traficantes. Não foi em confronto com a polícia, com exceção desse caso agora da Rocinha (favela na zona sul carioca). Isso é da natureza dessa verdadeira nação de criminosos que se criou no Rio de Janeiro. Digo uma nação porque são pessoas que têm uma ideologia de facção, pessoas que têm um desapego e uma irresponsabilidade total pela vida humana”, afirmou o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, em entrevista à emissora Globonews.
O caso a que o secretário se referiu ocorreu na noite deste sábado, quando Adriene Solan do Nascimento, de 21 anos, morreu baleada na Rocinha durante tiroteio entre traficantes e policiais. Desde então, entre a noite de domingo e a madrugada desta segunda-feira, 26, houve mais dois casos: Lilian Leal de Moraes, de 12 anos, foi atingida em casa no Morro do Chapadão, em Costa Barros (zona norte), e Sandra Costa dos Santos, de 58 anos, feriu-se na cabeça enquanto dormia em casa em Bangu.
“Eles (os criminosos) fazem uso dessas armas causando morte de pessoas inocentes que estão fora do império, do reduto (deles). O que nós estamos fazendo é entrando nesses impérios e acabando com isso. É (isso) que as UPPs têm feito. Sabemos da situação do Chapadão, Juramento, Costa Barros, Santa Cruz, Baixada Fluminense (regiões na periferia ainda sem UPPs e que são palco de ações criminosas frequentes), mas não podemos fazer ocupação sem poder sustentá-las. O que podemos fazer e estamos fazendo são operações policiais”, acrescentou o secretário. Estão previstas pelo Estado UPPs no Chapadão e no Juramento até o fim do ano, mas não foi divulgado exatamente quando serão instaladas.
A polícia sabe que há disputa entre as facções Comando Vermelho (CV) e Amigo dos Amigos (ADA) pelo controle do tráfico em áreas das zonas norte e oeste. Beltrame disse que, apesar da sequência de casos de violência, a polícia está atuante e, desde 7 de novembro, já prendeu 4.410 pessoas e apreendeu 568 pistolas. Ele cobrou ação do governo federal, responsável pelas fronteiras, na tentativa de evitar a entrada de armas no País.
Para o antropólogo Paulo Storani, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar (PM), a disputa entre facções é comum e constante, e a única forma eficaz de combater o crime é policiar as fronteiras e evitar a entrada de armas e drogas.
“A Polícia Federal se preocupa mais com o tráfico de cigarros do que com o de drogas ou armas, talvez porque cigarro tenha um imposto alto. Pode-se combater o crime no Rio, mas ele é alimentado pelas drogas e armas que entram ilegalmente pelas fronteiras. É lá que isso precisa ser combatido. Não adianta apreender armas e drogas no Rio se esses produtos continuam entrando (no País), porque assim o crime vai continuar”, alertou.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.