RIO - Dois dias após um tiroteio que se estendeu por cinco horas na favela da Rocinha, na zona sul do Rio, onde traficantes da mesma facção criminosa disputam entre si o domínio sobre o comércio de drogas, o secretário estadual de Segurança do Rio, Roberto Sá, admitiu que a Polícia falhou ao não conseguir impedir a invasão da favela e o confronto, que deixou três suspeitos mortos e três moradores feridos. "Se não foi possível evitar a entrada (de traficantes), houve equívoco. Foi reconhecido pelo comandante, o que não tira o mérito do que eles fazem no dia a dia para a proteção da sociedade", afirmou o secretário, em entrevista à TV Globo. A Polícia Civil informou ontem ter identificado oito traficantes que aparecem em vídeos circulando armados pela Rocinha, mas nenhum foi preso. Nesta terça ocorreram operações da PM na Rocinha e em outras favelas, e o Exército também se mobilizou nas favelas do Muquiço e da Palmeirinha, em Guadalupe (zona norte), para tentar recuperar uma pistola roubada de um sargento.
O secretário Roberto Sá disse ter cobrado do comandante geral da PM uma explicação para a falha. "Eu cobrei o que pode ter acontecido. Havia a notícia da inteligência sobre essa instabilidade, racha na facção. Houve reforço, mas ele confirmou que foi insuficiente, ou que houve falha na operacionalização. Isso já foi identificado por ele", disse o secretário. Vídeos divulgados pelas redes sociais mostram viaturas da PM paradas, enquanto os bandidos fugiam. A PM informou na segunda-feira (18) que não agiu com mais força para acabar com o confronto porque a intervenção poderia vitimar moradores. O confronto foi entre bandidos da facção Amigo dos Amigos (ADA), que lutam pela hegemonia na favela. O secretário assegurou que a polícia não deixará a Rocinha. "Não vamos sair de lá enquanto a situação não for resolvida", afirmou.
Sobre o ministro da Defesa, Raul Jungmann, ter afirmado que estão ocorrendo problemas de comunicação entre as Forças Armadas e o governo do Estado do Rio, ele disse: "A declaração do ministro me surpreendeu. É óbvio que sempre precisa haver ajustes, mas não há nenhum ruído. A comunicação com o ministro é muito boa; com o comandante militar do Leste, melhor ainda, nos falamos quase diariamente. As Forças Armadas têm uma maneira de serem empregadas, e sempre respeitamos. Sempre que temos mandados de busca e apreensão, comunicamos. Fazemos reuniões para planejamento de outras operações. Quero deixar claro para a sociedade fluminense: a relação é a melhor possível."
A reportagem tentou entrevistar Sá sobre as relações com o governo federal na sexta-feira, 15, e na segunda-feira, 18, mas a resposta foi negativa.
O Ministério da Defesa cogitou suspender a Operação O Rio Quer Segurança e Paz devido a desentendimentos com a Secretaria de Segurança do Rio. O chefe da Polícia Civil, Carlos Leba, chegou a dizer que as Forças Armadas estariam atrapalhando o sucesso das operações integradas, porque os militares atuam de forma diferente. Sá disse que preferia ajuda financeira à ação das forças federais. Essas falas foram mal recebidas pelos militares.
A última operação realizada em parceria entre as forças de segurança federais e as polícias Civil e Militar do Rio ocorreu em 21 de agosto. Durante as três ações realizadas até agora, não foi apreendido um fuzil sequer.
Ontem de manhã o Exército promoveu uma operação nas favelas do Muquiço e da Palmeirinha, em Guadalupe, depois que um sargento da 9ª Brigada de Infantaria Motorizada teve a arma roubada por criminosos que fugiram em direção a essas comunidades. A operação, em que foram usados até veículos blindados, não faz parte do Plano Nacional de Segurança. Um suspeito foi detido. No fim da tarde, a arma foi devolvida por "lideranças comunitárias", segundo o porta-voz do Comando Militar do Leste, coronel Roberto Itamar.
Rocinha. A Polícia Civil informou ter identificado oito criminosos que, em imagens gravadas nos últimos dias na Rocinha, circulavam armados pela favela. Até ontem, nenhum deles havia sido preso. Ontem de manhã o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, realizou uma ação na Rocinha e no Vidigal, outra favela vizinha. Também houve operações da PM no Morro de São Carlos, no Estácio, no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, e nas favelas Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme (zona sul). Dessas comunidades,teriam saído traficantes que invadiram a Rocinha. No Chapéu Mangueira foram apreendidos um fuzil, uma pistola e drogas. Um suspeito foi ferido durante confronto. Foi internado no Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon.
COLABOROU FABIO GRELLET.