
12 de fevereiro de 2018 | 03h00
Diz a tradição carnavalesca que a campeã da folia carioca sempre sai da segunda-feira. Em 33 anos de Sambódromo, só cinco vezes uma escola de samba que se apresentou no domingo saiu vencedora. Este ano, a expectativa sobre a última noite é ainda maior, por ela concentrar agremiações de forte apelo popular e muitas vitórias, como Portela, atual campeã (ao lado da Mocidade). Há ainda Beija-Flor (com 13 títulos) e o Salgueiro (com nove, considerados todos os desfiles, desde os anos 1930).
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A explicação para a “maldição do domingo”, acredita-se, está no modo como se dá o julgamento. Os 36 jurados dos nove quesitos lançam as notas na manhã de terça-feira, ao fim de 13 desfiles, e as escolas de segunda-feira estariam mais “frescas” na memória. O Grupo Especial comporta 12 escolas,mas em 2017 nenhuma delas caiu para a série A, por ter sido um ano atípico, com dois acidentes graves com carros alegóricos na pista.
Nesta segunda-feira, os enredos vão da alegre homenagem à trajetória do ator, diretor e dramaturgo Miguel Falabella, na Unidos da Tijuca (que abre a noite), às mazelas sociais apresentadas pela Beija-Flor. A escola de Nilópolis fala de miséria e intolerância, a partir da figura do monstro de Frankenstein, de Mary Shelley, em narrativa concluída com a redenção por meio da festa e do samba.
“Somos uma escola que sempre briga pelo título”, provoca Bianca Behrends, da comissão de carnaval da escola de Nilópolis. “Vamos mostrar a imundície da corrupção e outros monstros brasileiros.”
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A União da Ilha fala de culinária e pôs em sua panela as influências europeia, indígena e negra. O Salgueiro, afeito a temáticas ligadas à África, cantará as Senhoras do Ventre do Mundo, partindo da “Eva africana”, mulher da qual toda a humanidade teria derivado.
Já a Imperatriz leva ao público Uma Noite Real no Museu Nacional, com foco na instituição científica carioca cujo prédio abrigou a família real portuguesa. A premissa é de que só com a vinda de D. João VI, 308 anos depois da chegada dos colonizadores, é que o Brasil começou a ser inventado como País.
Portela e Tijuca. Na Portela, a veterana Rosa Magalhães - a maior vencedora, com sete títulos, ao lado de Alexandre Louzada, da Mocidade - conta uma passagem pouco conhecida de nossa história: a ida de judeus europeus baseados no Recife para Nova Amsterdam, futura Nova York, no século 17.
O desfile promete ser um brado contra a xenofobia. “Vamos mostrar que somos todos imigrantes. O Brasil é acolhedor, não rejeitamos os de fora”, explica Rosa.
Mais uma vez, a crise afastou as empresas patrocinadoras da Sapucaí. “Eu já peguei várias crises, a gente se vira como pode. A pior foi a do (ex-presidente Fernando) Collor”, brinca Rosa, em atividade há mais de 40 carnavais, referindo-se ao confisco ocorrido em 1990. “Tentamos patrocínio, mas todo mundo aproveita e diz que ainda está em dificuldades”, explica Fernando Horta, presidente da Unidos da Tijuca.
A escola intensificou os cuidados com os carros alegóricos após um deles ter desabado, ano passado, ferindo 12 pessoas. O acidente foi provocado por um defeito no elevador hidráulico que levantava o segundo andar da alegoria. Por isso, a direção da escola vetou o equipamento no desfile deste ano.
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SEGUNDA NOITE
Segunda-feira
21h15
Unidos da Tijuca
Enredo: Um coração urbano: Miguel, o Arcanjo das Artes, saúda e povo e pede passagem
22h20
Portela
Enredo: De repente de lá pra cá e dirrepente de cá pra lá...
23h25
União da Ilha
Enredo: Brasil bom de boca
Terça-feira
0h30
Acadêmicos do Salgueiro
Enredo: Senhoras do Ventre do Mundo
1h35
Imperatriz Leopoldinense
Enredo: Uma noite real no Museu Nacional
2h40
Beija-flor de Nilópolis
Enredo: Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu
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