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Seis pessoas morrem vítimas de cabeça d'água no Rio

Rio Soberbo enche e pega banhistas de surpresa, deixando seis vítimas e um desaparecido

Por Pedro Dantas e do Estado de S. Paulo
Atualização:

Seis corpos foram encontrados, entre eles o de uma menina de 10 anos, e um homem continua desaparecido após um dia de buscas do Corpo de Bombeiros por vítimas de uma cabeça d'água que atingiu banhistas no Rio Soberbo em Gaupimirim, na Região Metropolitana do Rio, no domingo, 9.   Os turistas foram surpreendidos por volta das 13h45 de domingo, 9, por uma onda de água barrenta que levou árvores, moveu pedras e arrastou pessoas que se banhavam na localidade conhecida como Poço Verde, próxima ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos. "Foi tipo uma tsunami. O que tinha pela frente a água levou. Saí de casa e vi cinco cabeças sendo arrastadas. Um homem e uma mulher estavam agarradas ao portão da minha casa e consegui salvá-los", disse a caseira Ana Marta Miranda, de 38 anos. Alguns corpos foram encontrados a quatro quilômetros do balneário.   A caseira contou que pouco depois de 13h30 percebeu que uma cabeça d`água estava a caminho. "Vi nuvens pesadas de chuva na altura da nascente do rio e pensei que cairia uma tromba d'água ali. Muitas pessoas saíram do rio, mas o sol abriu e algumas voltaram. Pouco depois ouvi o estrondo parecido com uma trovoada, logo seguido pelo barulho da água", disse Ana Marta. Ela criticou a falta de sinalização para turistas sobre o perigo de cabeças d'água no local. "Só existe uma placa pedindo que as pessoas preservem a natureza, mas este ano já tivemos pelos menos três ocorrências deste tipo", afirmou.   No Poço Verde, várias peças de roupas denunciavam que muitas pessoas saíram às pressas. O guia de turismo Marcos dos Santos Sarmento, de 32 anos, encontrou um calção com uma chave de carro e diz que muitos banhistas ignoram os alertas. "Trabalho aqui e sei que quando a água começa a descer com galhos e a ficar barrenta é sinal de cabeça d'água. Aviso às pessoas, mas muitos fingem que não escutam e outras até me hostilizam", disse o rapaz, que domingo, 9, não estava no local, mas auxiliou os bombeiros no resgate dos corpos nesta segunda-feira, 10.   A tia da menina Tainá Galvão Leal, de 10 anos, estava inconformada com a tragédia e contou que foi salva por puro acaso. "Fui levada pela água, mas meu pé ficou preso entre duas pedras. A água quase cobria minha cabeça e respirava com dificuldade. Fiquei uma hora e meia ali. Um homem me resgatou usando uma corda", contou Jocélia Rocha de Souza, que no final da tarde foi ao Instituto Médico Legal de Duque de Caxias tentar reconhecer o corpo do amigo Agamenom Pereira de Souza, de 37 anos, que permanecia desaparecido. Os pais de Tainá que eram de Belém e moravam há menos de um ano em Itaboraí, na Baixada Fluminense, estavam em estado de choque. O único filho que escapou Leanderson Pereira de Souza, de 13 anos, também ficou traumatizado. "Ele conseguiu ficar agarrado a uma cerca. Um homem tentou segurar nele, mas não conseguiu. O menino está em choque", afirmou a tia da criança, Rosemary Rocha, de 45 anos.   "Há um ano, minha filha vinha da Bahia e o avião sofreu três turbulências durante o vôo. Ela ficou traumatizada e fez tratamento. Quando estava melhorando, resolveu sair com os amigos e morreu na cachoeira", lamentou Fernando Luiz Viana, de 38 anos, pai da estudante de Direito Juliana Costa Viana, de 24 anos. Ela e os amigos foram surpreendidos pela aumento do volume da água, que passou da altura do joelho para o pescoço em segundos. O grupo sete pessoas veio de Madureira, na Zona Norte do Rio. Além de Juliana, o amigo dela, Rodrigo de Freitas Ferreira, de 24 anos, também morreu levado pelas águas.   Além das vítimas acima, também morreram Erenilton Bispo dos Santos, de 65 anos, que foi atingido pela enxurrada na localidade conhecida como Bananal; João Marcos Santana Almeida, de 42 anos e Isabele Rodrigues, de 31 anos atingidos quando se banhavam no Rio Soberbo. O presidente da Associação de Moradores e Amigos de Barreira, distrito onde fica localizado o Poço Verde, acusou as autoridades de jogo de empurra sobre a responsabilidade de qual órgão deveria instalar um sistema de alarme e sinalização sobre os perigos do local, que serve de alternativa de lazer para moradores da Baixada Fluminense e Zona Norte do Rio. "Desde 1999, reivindicamos isso. Este não é a primeira tragédia deste tipo. Infelizmente, a Prefeitura de Guapimirim e o Ibama, que administra o parque, se limitam a passar a responsabilidade para o outro", apontou Ítalo Boezio, de 67 anos. O Ibama informou que o Poço Verde fica em área do município. A Prefeitura de Guapimirim não comentou o assunto.

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