Simulacros de armas estão em 40% dos roubos no Rio; MP pede rigor

Pistolas, revólveres e até fuzis fabricados para prática esportiva, e quase idênticos a armas de fogo, estão sendo cada vez mais usados em crimes

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Por Roberta Pennafort
2 min de leitura

RIO - Pistolas, revólveres e fuzis fabricados para a prática esportiva e idênticos a armas de fogo vêm sendo usados em larga escala por assaltantes, traficantes de drogas e milicianos no Rio. Cálculos feitos pelo Ministério Público, com base em flagrantes registrados na capital e na Baixada Fluminense, indicam que quatro em cada dez assaltos já são cometidos com esses simulacros. Essas armas falsas são vendidas livremente em lojas físicas e online. É impossível diferenciá-las de armamento real, mesmo se observadas a uma distância curta, de acordo com policiais ouvidos pela reportagem.

A opção dos criminosos pelas réplicas é fácil de explicar. Pistolas de calibres 9 mm, ponto 45 e ponto 40 custam em torno de R$ 5 mil no mercado negro, a depender do fabricante. Uma “arma” do tipo Airsoft tem preço médio entre R$ 250 e R$ 500. Um fuzil sai entre R$ 50 mil e R$ 70 mil na ilegalidade. Já uma réplica, muito parecida com arma verdadeira, custa R$ 2 mil ou menos. 

Venda permitida. Além do preço mais baixo, há também a ausência do risco, uma vez que a venda dos simulacros é regular. Um assalto com Airsoft é qualificado como roubo simples. A sentença pode ser cumprida em regime aberto. Em um caso de condenação por roubo à mão armada, a pena é agravada, e o regime de prisão começa no semiaberto (quando o detento deixa a prisão para trabalhar e volta à noite para dormir na cadeia). 

O que os criminosos vêm fazendo, segundo o promotor Jorge Luis Furquim, da Promotoria Criminal de Itaguaí e com 15 anos de atuação, é misturar armas de fogo ao armamento do tipo Airsoft para impor medo. Nos assaltos, as vítimas, que não desconfiam que estão diante de armas falsas, não reagem, com medo de serem baleadas e até mortas. São situações em que os bandidos preferem não arriscar perder armas caras, já que o ganho será limitado. Já os traficantes ostentam as réplicas para dissuadir investidas policiais em favelas. O mesmo fazem milicianos. Com os Airsofts, eles transmitem uma falsa impressão de poderio bélico. 

Ponta colorida. Fabricadas em países como China e Taiwan, as armas desse tipo disparam esferas plásticas de seis milímetros por meio de molas, gás comprimido ou estímulo elétrico (com bateria). Na aparência, as únicas diferenças para o armamento real são a coronha e a ponteira colorida (nas cores laranja ou vermelho). A marcação, estabelecida em lei em 2010, serve para que seja possível distinguir uma Airsoft das armas de fogo. Mas a ponta é facilmente retirada, ou chega a ser pintada de preto pelas quadrilhas. 

Lojas especializadas. A presença desses simulacros no Brasil é “uma aberração”, considera o promotor Furquim. “Essa inundação de Airsoft tem cinco anos. O negócio floresceu, e já existe loja só disso. Mas a lei não permite importação de simulacros só para brincadeira, então o Exército tinha de vetar a entrada no País. A dúvida se é arma real ou não é extremamente perniciosa” diz. 

O promotor conta que, junto com a arma, vem um folder explicando que é proibido tirar a ponta. O material também diz que é crime entregar armamento desse tipo a menores de 18 anos. “Mas isso é uma falácia. Já tem 20 anos que o governo proibiu a indústria de brinquedos de fabricar armas para crianças, e na época, nem se pensou no uso por criminosos, até por que as armas não eram idênticas”, explica Furquim. 

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