BRASÍLIA - Um contingente de 8,5 mil militares começou nesta sexta-feira, 28, a reforçar a segurança em diversos pontos da região metropolitana do Rio, que vive uma escalada da violência nos últimos meses. O deslocamento das tropas, em ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), foi autorizado por decreto do presidente Michel Temer, publicado em edição extraordinária do Diário Oficial da União. A autorização vale até 31 de dezembro, mas deve ser prorrogada para 2018.
O grupo se soma a outros agentes federais que já reforçam a segurança no Estado – 620 homens da Força Nacional de Segurança e 1.120 da Polícia Rodoviária Federal (PRF) – 740 desses já estavam no Rio.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, ressaltou que a atuação das Forças Armadas no policiamento não será igual à de ações anteriores – a primeira, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, foi há 25 anos; e a última começou nos Jogos Olímpicos e foi estendida até o segundo turno das eleições, no fim de outubro de 2016. De acordo com o ministro, praças e oficiais não farão patrulhamento nem ocuparão comunidades para, depois, se retirarem, enquanto o governo local e a população veem os criminosos voltarem. Agora, destacou Jungmann, os militares desenvolverão ações de inteligência, a serem usadas pelas Polícias Civil e Militar.
“Nosso carro-chefe é a inteligência, porque é ela que vai dar as informações para que a gente possa golpear o crime organizado e não apenas inibi-lo, como nas operações anteriores. Os cariocas (em operações militares do passado) tinham uma sensação, muito justa, de segurança, porém, quando a gente se retirava, porque é impossível ficar por muito tempo, voltava àquela situação de medo e vulnerabilidade anterior”, disse o ministro.
Uma das ações mais marcantes de uso de soldados contra criminosos no Rio nos últimos anos se deu no Complexo da Maré, entre abril e junho de 2015. Após a saída das tropas, o local foi novamente tomado por traficantes. “Vamos atuar pontualmente. Não será uma ação de ocupação de território como fizemos, por exemplo, na Maré.”
Apesar das afirmações do ministro, os militares, armados de fuzis e usando coletes à prova de balas, seguiram alguns procedimentos típicos de patrulhamento. Assumiram posições no Arco Metropolitano, na Linha Vermelha, na descida da Ponte Rio-Niterói, em Niterói, em São Gonçalo, e até na zona sul da capital, além de outros lugares.
Em alguns pontos, usaram carros blindados e promoveram pequenas blitze de trânsito. Reduziam o espaço para passagem para apenas um veículo, observavam seus ocupantes e checavam documentos de motociclistas. Em Copacabana, na zona sul, soldados montaram guarda na orla. Não houve registro de prisões.
Em vídeo, Temer disse que o problema da insegurança no Estado “inquieta e angustia todos os brasileiros”. A ação federal é uma resposta ao alarmante crescimento da criminalidade no Rio, com alta de homicídios, latrocínios e roubos, em meio à grave crise financeira no Estado. Esses crimes têm sido cometidos com armas pesadas, como fuzis, além de granadas e explosivos. Neste ano, 91 policiais militares já foram mortos no Estado – mais do que em todo o ano passado. Houve também civis, incluindo crianças, mortos em tiroteios e durante operações policiais.
Promessas. A atuação dos militares vai até o fim de 2018. Por razões orçamentárias, o decreto determina que a operação de GLO seja realizada até 31 de dezembro, mas deve ser prorrogada no começo do ano que vem.
Segundo o ministro, a primeira fase da ação será de “reconhecimento” do território pelos militares. O foco da operação estará na região metropolitana, e o contingente militar ficará distribuído pelo Estado. Após o reconhecimento, as tropas reforçarão ações das Polícias Civil e Militar em operações pontuais para coibir o crime, com base na inteligência que produzirem.
“Essa operação visa exatamente a chegar ao crime organizado e a suas cadeias de comando. O elemento surpresa é central para desmantelarmos o crime organizado”, justificou.
Violência no Rio
As Forças Armadas vão reforçar a segurança no Rio, que vive um aumento dos casos de violência. Nas últimas semanas, a Linha Vermelha foi alvo de tiroteios entre policiais e criminosos, obrigando os motoristas a deixar os carros na via.
A violência também afeta a rotina das escolas na capital. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, de 105 dias do ano letivo (até o dia 13 de julho), a rede funcionou sem interrupção por episódios violentos (tiroteio, toque de recolher, assalto, operação policial) em só oito. Além disso, 382 das 1.537 escolas - uma em cada quatro - tiveram de fechar ou interromper atividades pelos mesmos motivos.
No último domingo, um policial militar morreu após ser baleado na Favela do Vidigal, zona sul da capital fluminense. O sargento Hudson Silva de Araújo foi o 91º PM morto no Rio em 2017.
Casos de crianças atingidas por balas perdidas também foram registrados nas últimas semanas e causaram revolta entre os moradores. No dia 4 de julho, uma menina de 11 anos morreu depois de ser atingida por um disparo na zona norte do Rio. Em 30 de junho, uma mulher grávida foi vítima de bala perdida. O tiro atingiu o bebê, que teve os pulmões perfurados e vétebras torácicas lesionadas. A criança está internada em estado grave.