Temer autoriza uso das Forças Armadas para reforçar segurança no Rio

Reforço de 8,5 mil militares já está nas ruas do Rio para reforçar a segurança no Estado nesta sexta-feira; tropas começaram uma operação de "reconhecimento"

PUBLICIDADE

Foto do author Luci Ribeiro
Por Luci Ribeiro (Broadcast) e Constança Rezende
Atualização:
Homens do Exército tomam posição na Washington Luiz,em Duque de Caxias Foto: Cléber Júnior/Extra/Agência O Globo

BRASÍLIA - Um contingente de 8,5 mil militares começou nesta sexta-feira, 28, a reforçar a segurança em diversos pontos da região metropolitana do Rio, que vive uma escalada da violência nos últimos meses. O deslocamento das tropas, em ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), foi autorizado por decreto do presidente Michel Temer, publicado em edição extraordinária do Diário Oficial da União. A autorização vale até 31 de dezembro, mas deve ser prorrogada para 2018. 

PUBLICIDADE

O grupo se soma a outros agentes federais que já reforçam a segurança no Estado – 620 homens da Força Nacional de Segurança e 1.120 da Polícia Rodoviária Federal (PRF) – 740 desses já estavam no Rio. 

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, ressaltou que a atuação das Forças Armadas no policiamento não será igual à de ações anteriores – a primeira, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, foi há 25 anos; e a última começou nos Jogos Olímpicos e foi estendida até o segundo turno das eleições, no fim de outubro de 2016. De acordo com o ministro, praças e oficiais não farão patrulhamento nem ocuparão comunidades para, depois, se retirarem, enquanto o governo local e a população veem os criminosos voltarem. Agora, destacou Jungmann, os militares desenvolverão ações de inteligência, a serem usadas pelas Polícias Civil e Militar.

“Nosso carro-chefe é a inteligência, porque é ela que vai dar as informações para que a gente possa golpear o crime organizado e não apenas inibi-lo, como nas operações anteriores. Os cariocas (em operações militares do passado) tinham uma sensação, muito justa, de segurança, porém, quando a gente se retirava, porque é impossível ficar por muito tempo, voltava àquela situação de medo e vulnerabilidade anterior”, disse o ministro.

Uma das ações mais marcantes de uso de soldados contra criminosos no Rio nos últimos anos se deu no Complexo da Maré, entre abril e junho de 2015. Após a saída das tropas, o local foi novamente tomado por traficantes. “Vamos atuar pontualmente. Não será uma ação de ocupação de território como fizemos, por exemplo, na Maré.”

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, em entrevista coletiva nesta sexta Foto: Fábio Motta/Estadão

Apesar das afirmações do ministro, os militares, armados de fuzis e usando coletes à prova de balas, seguiram alguns procedimentos típicos de patrulhamento. Assumiram posições no Arco Metropolitano, na Linha Vermelha, na descida da Ponte Rio-Niterói, em Niterói, em São Gonçalo, e até na zona sul da capital, além de outros lugares.

Em alguns pontos, usaram carros blindados e promoveram pequenas blitze de trânsito. Reduziam o espaço para passagem para apenas um veículo, observavam seus ocupantes e checavam documentos de motociclistas. Em Copacabana, na zona sul, soldados montaram guarda na orla. Não houve registro de prisões.

Publicidade

Em vídeo, Temer disse que o problema da insegurança no Estado “inquieta e angustia todos os brasileiros”. A ação federal é uma resposta ao alarmante crescimento da criminalidade no Rio, com alta de homicídios, latrocínios e roubos, em meio à grave crise financeira no Estado. Esses crimes têm sido cometidos com armas pesadas, como fuzis, além de granadas e explosivos. Neste ano, 91 policiais militares já foram mortos no Estado – mais do que em todo o ano passado. Houve também civis, incluindo crianças, mortos em tiroteios e durante operações policiais.

Promessas. A atuação dos militares vai até o fim de 2018. Por razões orçamentárias, o decreto determina que a operação de GLO seja realizada até 31 de dezembro, mas deve ser prorrogada no começo do ano que vem. 

Segundo o ministro, a primeira fase da ação será de “reconhecimento” do território pelos militares. O foco da operação estará na região metropolitana, e o contingente militar ficará distribuído pelo Estado. Após o reconhecimento, as tropas reforçarão ações das Polícias Civil e Militar em operações pontuais para coibir o crime, com base na inteligência que produzirem.

“Essa operação visa exatamente a chegar ao crime organizado e a suas cadeias de comando. O elemento surpresa é central para desmantelarmos o crime organizado”, justificou.

PUBLICIDADE

Violência no Rio

As Forças Armadas vão reforçar a segurança no Rio, que vive um aumento dos casos de violência. Nas últimas semanas, a Linha Vermelha foi alvo de tiroteios entre policiais e criminosos, obrigando os motoristas a deixar os carros na via.

A violência também afeta a rotina das escolas na capital. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, de 105 dias do ano letivo (até o dia 13 de julho), a rede funcionou sem interrupção por episódios violentos (tiroteio, toque de recolher, assalto, operação policial) em só oito. Além disso, 382 das 1.537 escolas - uma em cada quatro - tiveram de fechar ou interromper atividades pelos mesmos motivos.

Publicidade

No último domingo, um policial militar morreu após ser baleado na Favela do Vidigal, zona sul da capital fluminense. O sargento Hudson Silva de Araújo foi o 91º PM morto no Rio em 2017.

Casos de crianças atingidas por balas perdidas também foram registrados nas últimas semanas e causaram revolta entre os moradores. No dia 4 de julho, uma menina de 11 anos morreu depois de ser atingida por um disparo na zona norte do Rio. Em 30 de junho, uma mulher grávida foi vítima de bala perdida. O tiro atingiu o bebê, que teve os pulmões perfurados e vétebras torácicas lesionadas. A criança está internada em estado grave.