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Temer se diz 'satisfeitíssimo' com resultados da intervenção no Rio

Após quase sete meses de intervenção federal, presidente classifica resultados como "extraordinários" e cita pesquisa que aponta 66% de aprovação à medida

Por Roberta Pennafort e Roberta Jansen
Atualização:
O general Braga Neto(esq.), o presidente Temer e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (dir.) Foto: Fabio Motta/Estadão

RIO - Ao avaliar os quase sete meses de intervenção federal na segurança do Rio, o presidente Michel Temer (MDB) se disse “satisfeitíssimo” com seus resultados “extraordinários” e defendeu que a aprovação popular à medida, de 66%, de acordo com pesquisa do Datafolha divulgada semana passada, seja comemorada. O comandante das operações, general Antonio Barros, afirmou, por sua vez, que não há “milagre” nem “varinha de condão” no combate à criminalidade no Estado.

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Temer citou o maior número de prisões e apreensão de drogas, mas não o crescimento dos homicídios, em especial os decorridos de ações policiais. “Em que atividade do serviço público há aprovação de 66%? Quando ultrapassa 50% já é extremamente favorável. Estamos satisfeitíssimos por termos decretado”, declarou. O presidente se reuniu com o governador Luiz Fernando Pezão (MDB) e o interventor, general Walter Braga Netto. Na saída, disse a jornalistas que “o exemplo do Rio” tem levado outros estados a também requerer intervenção.

A medida foi tomada logo depois do carnaval, com o objetivo de reduzir a violência no Estado. Tem sido eficaz especificamente para baixar os números de roubos, o que vem ocorrendo todos os meses, conforme o Instituto de Segurança Pública, braço estatístico da Secretaria de Segurança. Mas a rotina de tiroteios permanece, inclusive em áreas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), onde no passado não se ouviam disparos.

De acordo com os últimos dados divulgados pelo ISP, mês passado houve redução nos roubos de veículos de 29% ante julho de 2017; nos de carga, 19%; nos de rua, 12%; nos roubos seguidos de morte, 46%. No entanto, as mortes em ações policiais dobraram em relação a julho de 2017 (aumento de 105%), e os homicídios cresceram 9%. A chamada letalidade violenta (soma de todos os óbitos violentos) passou de 3.926 casos em 2017 para 4.133 este ano no período janeiro-julho.

A idealizadora do Laboratório de Dados Sobre Violência Armada Fogo Cruzado, Cecília Oliveira, se mostrou espantada com a fala do presidente Michel Temer.

“Eu também acho que os números são extraordinários”, afirmou Cecília, que vem acompanhando o recrudescimento da violência. “Extraordinariamente ruins, eu diria. Nós temos uma linha de trem que parou 20 vezes por dia nos primeiros cinco meses deste ano por conta de tiroteios, isso é extraordinário. Extraordinariamente absurdo. O número de casos de mortes decorrentes de ações policiais é o maior desde 2008 e o número de roubos de rua é o maior desde 2006. Sim, o roubo de carros e cargas diminuiu, e o que isso quer dizer? Que os carros estão salvos e as pessoas estão morrendo? Qual o valor da vida para ele?”

Cecília lembrou ainda dos três militares mortos numa mesma ação: “Será que os familiares desses militares acham essa intervenção extraordinária? Três militares mortos numa mesma ação é incomum dentro da história do Exército, vários especialistas falaram isso. Temer não faz nenhuma ideia do que está falando, não tem nenhum embasamento para dizer isso.”

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A especialista lembrou ainda que o número de tiroteios na cidade também aumentou, bem como o fechamento das principais vias.

“Do que Temer está falando? Para quem circula no Rio, o que ele diz não faz nenhum sentido. O número de balas perdidas é recorde, o número de chacinas aumentou. Convivemos diariamente com a Linha Vermelha fechada, com a Avenida Brasil fechada, com a Grajaú-Jacarepaguá fechada por conta de tiroteios. Do que ele está falando?”

Sílvia Ramos, coordenadora do Laboratório da Intervenção, afirmou que os indicadores de segurança mostram que a criminalidade e violência no Rio não foram controladas. “Além do enorme aumento de mortes decorrentes de ação policial e das chacinas, houve também grande elevação no número de tiroteios”. Disse. “Há dois dias foram registrados tiroteios em 31 lugares diferentes do Rio. Áreas inteiras da cidade e região metropolitana estão sob o domínio de facções ou milícias e as ações policiais aumentam o medo e não preservam vidas.” Segundo ela, “o modelo de tratar segurança com tropas, operações, equipamentos de combate e pouca inteligência não deu certo”.

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General. À frente do Comando Conjunto de operações da intervenção federal do Rio, o general Barros chamou os traficantes de drogas de “marginais irracionais” e atribuiu à imprensa o fato de que a sensação de segurança da população não melhora na proporção da queda de índices: “Está no patamar que gostaríamos? Claro que não. Mas como nós vamos melhorar a sensação de segurança se não falamos o que está dando certo? Tivemos 400 carros recuperados, mais de 1000 barreiras (de traficantes) removidas (em favelas)”.

A intervenção foi decretada em fevereiro, e as operações integradas com as polícias estaduais começaram em abril. Barros admitiu que a situação no Rio “não é de normalidade” e sublinhou que os problemas são antigos e persistentes. “Quando você tem um problema de décadas e décadas, não vão ser três meses que vamos resolver. Por que será que tem apoio da população para a intervenção? Nós temos o desafio de manter as pessoas informadas e todos os senhores (da imprensa) são muito importantes. Os índices estão caindo, se a sensação não melhora, é porque alguém não está fazendo o papel de informar”, disse o general do Exército, ressalvando que “o Rio não está numa situação de normalidade” e que “de uma hora para outra os tiroteios não vão parar”.