PUBLICIDADE

Temporal no Rio deixa 10 mortos e cidade entra em estágio de crise

Prefeitura suspendeu as aulas nesta terça na rede municipal e pediu que população se desloque somente em casos de extrema necessidade

Foto do author Marcio Dolzan
Foto do author Roberta Jansen
Por Fabio Grellet , Denise Luna (Broadcast), Pedro Prata , Jéssica Otoboni , Marcio Dolzan e Roberta Jansen
Atualização:

RIO – Um temporal que atinge o Rio de Janeiro desde o início da noite dessa segunda-feira, 8, provocou a morte de pelo menos dez pessoas, inundou ruas, derrubou árvores e destruiu casas e carros em vários bairros. Avó, neta e o motorista de um táxi estão entre as vítimas, encontrados em um carro soterrado após um deslizamento em Botafogo, na zona sul da cidade

Prefeitura pede que população se desloque somente em casos de extrema necessidade Foto: Lucas Landau / Reuters

PUBLICIDADE

A astróloga Lúcia Xavier Sarmento Neves levou sua neta Júlia Neves Aché a um evento no shopping Rio Sul e às 21h30 queriam voltar para casa, em Copacabana, a menos de dois quilômetros de distância. Pessoas que também aguardavam um táxi na porta do shopping, diante da senhora com a criança tentando conseguir uma condução, cederam a vez para Lúcia e Júlia. As duas embarcaram no carro dirigido por Marcelo Marcelino Tavares. 

Os três morreram soterrados num deslizamento de terra na Avenida Carlos Peixoto. O táxi soterrado só foi descoberto na tarde desta terça-feira. Além deles, o corpo de um homem que teria morrido afogado no temporal foi resgatado no Jardim Maravilha, em Campo Grande, na zona oeste do Rio. A região está completamente inundada e as pessoas estão se deslocando em barcos.  

No ínicio da tarde, foi confirmada a morte de Leandro Ramos Pereira, de 40 anos, que levou um choque enquanto limpava o ralo de sua casa em Campo Grande, na zona oeste. Já o corpo de Guilherme N. Fontes, de 30 anos, foi encontrado debaixo de um carro na Gávea, na zona sul. Ele havia saído de casa na carona de uma moto para comprar carne em um açougue na Rocinha e fazer um churrasco em comemoração ao aniversário. Caiu da moto e foi arrastado pela água na rua Marquês de São Vicente, uma das principais vias do bairro.

Duas irmãs, Doralice e Gerlaine do Nascimento, de 55 e 53 anos, morreram num deslizamento no Morro da Babilônia, no Leme. Elas eram vizinhas. Gilson Cézar Cerqueira, de 42 anos, estava na casa das duas e também morreu. 

Até a noite desta terça-feira, duas pessoas que morreram afogadas não haviam sido identificadas.

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), afirmou que mais de cinco mil homens trabalham para tentar minimizar os problemas causados pela forte chuva. "Decretamos feriado nas escolas e pedimos para que ninguém que não precise saia às ruas. As chuvas que caíram são anormais, nenhum de nós esperava um volume desses", disse Crivella em entrevista coletiva no Centro de Operações do Rio.

Publicidade

O atual prefeito, que é alvo de processo de impeachmente aberto pela Assembleia Legislativa do Estado na semana passada, foi o único entre os 3 candidatos mais votados que não citou chuvas em seu programa de governo.

O Rio de Janeiroentrou em estágio de atenção às 18h35 e às 20h55 passou para o estágio de crise -o mais grave de três níveis de risco, segundo a escala usada pela Prefeitura Foto: Mauro Pimentel / AFP

Crivella disse que o Centro de Operações funcionou durante toda a noite e que as equipes vão continuar trabalhando nesta terça para tentar evitar mais tragédias. Ele afirmou ainda que as regiões mais afetadas foram a zona sul e a zona oeste, e que deslizamentos graves só foram observados no Morro da Babilônia, no Leme. Segundo ele, 785 pontos estão sem luz e algumas das principais vias da cidade foram fechadas por segurança, como a Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá e o Auto da Boa Vista, que ligam a zona norte à zona oeste. 

A força da água causou o desabamento de mais um trecho da Ciclovia Tim Maia, que liga o Leblon, na zona sul, à Barra da Tijuca, na zona oeste. Desta vez, a parte que caiu fica próxima ao bairro de São Conrado. O desabamento ocorreu por volta das 22h, quando a via já estava fechada. Desde que foi inaugurada, em 2016, a estrutura já sofreu quatro desabamentos. O mais grave deles ocorreu logo após a inauguração, quando uma ressaca no mar derrubou uma parte da pista, matando duas pessoas.

A cidade entrou em estágio de atenção às 18h35 e às 20h55 passou para o estágio de crise — o mais grave de três níveis de risco, segundo a escala usada pela Prefeitura. Segundo a administração, em quatro horas choveu mais do que nos dias 6 e 7 de fevereiro, quando a chuva causou a morte de seis pessoas. Até as 23h, a Defesa Civil havia acionado 39 sirenes em 20 comunidades. Bombeiros recorreram a botes para retirar alunos de uma escola na Gávea.

A força da água causou o desabamento de mais um trecho da Ciclovia Tim Maia Foto: Sergio Moraes / Reuters

Nas primeiras horas do dia, o bairro mais afetado era o Jardim Botânico, na zona sul, onde em quatro horas choveu 155,4 milímetros, mais do que o esperado para todo o mês de abril (136 mm), segundo a Prefeitura do Rio. Dezenas de carros foram arrastados pela água e até o calçamento foi arrancado pela força da enxurrada.

Nas primeiras horas desta terça-feira, o bairro mais afetado era o Jardim Botânico, na zona sul Foto: Lucas Landau / Reuters

O segundo bairro mais prejudicado era o Alto da Boa Vista, na zona norte, onde choveu 102,6 mm, sendo que a média para todo o mês é de 193,8 mm. Na zona norte, o Rio Maracanã transbordou. Na zona sul, Botafogo e Laranjeiras registraram dezenas de alagamentos. 

"A gente teve uma chuva forte de 152 milímetros nas últimas quatro horas na Rocinha e 162 milímetros em Copacabana. Essa é uma chuva completamente atípica", disse Crivella Foto: Lucas Landau / Reuters

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.