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Testemunha do caso Amarildo está desaparecida desde agosto

Lucia da Silva Batista recebeu R$ 850 de quatro PMs há um ano para acusar o traficante da Rocinha Catatau da morte do pedreiro

Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - Lucia Helena da Silva Batista, testemunha do caso Amarildo de Souza, morto na favela da Rocinha há um ano e meio e cujo corpo nunca foi encontrado, está desaparecida desde agosto, segundo a promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho, do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público. 

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Um ano antes, Lucia Helena, moradora da Rocinha, havia recebido R$ 850 de quatro PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, o comandante, o subcomandante e dois soldados, que nesta quitna-feira, 11, foram denunciados pelo Ministério Público à Auditoria Militar por corrupção ativa. 

Eles a pagaram para que ela acusasse o traficante da Rocinha Thiago da Silva Neris, o Catatau, da morte do Amarildo, em depoimento à Justiça Militar. Com isso, os policiais esperavam que a suspeita contra eles se dissipasse. No entanto, posteriormente Lucia Helena voltou atrás no que dissera. 

Em agosto de 2013, a Anistia Internacional organizou protesto contra o sumiço de Amarildo, que teve participação da família e do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) Foto: Marcos Arcoverde/Estadão

Ela chegou a ser incluída no Programa de Proteção à Testemunha, afirmou a promotora, mas não por muito tempo. “Eu temo pela vida da Lucia Helena, estou preocupado. O programa é muito ruim, transforma as vítimas em bandidos e não as protege”, criticou o advogado João Tancredo, que defende a família de Amarildo. 

Carmen Eliza Bastos de Carvalho disse que foi a filha da moradora quem denunciou seu desaparecimento à Divisão de Homicídios e que não é possível afirmar se o fato de seu paradeiro ser desconhecido tem a ver com seu envolvimento nas investigações do caso Amarildo. Segundo a denúncia, em setembro de 2013, um dos denunciados, o soldado Newland de Oliveira e Silva Júnior, chegou a ir até seu local de trabalho, num shopping da Barra da Tijuca, para intimidá-la, por conta de sua mudança no depoimento.

Denunciados. Além do soldado, foram denunciados nesta quinta pelo MP o soldado Bruno Athanazio, o tenente Luiz Felipe de Medeiros, subcomandante da UPP, e o major Edson Santos, comandante. Os dois últimos são acusados também de tortura e assassinato de Amarildo e, se condenados, podem ficar até 36 anos presos. Já pela corrupção de testemunhas eles podem pegar até 16 anos. O crime da corrupção é militar, porque os falsos depoimentos foram dados à Justiça Militar.

A denúncia foi feita por promotores do Gaeco e da 2ª Promotoria de Justiça. Segundo eles, os PMs pagaram também R$ 500 a Wellington Lopes da Silva, outro morador da Rocinha, além de fraldas descartáveis para seu filho, para que eles incriminassem Catatau. Os dois soldados foram interlocutores do major, que determinou que eles vigiassem as duas testemunhas e utilizassem seus carros particulares para fazer a mudança das delas da Rocinha para locais distantes. Silva nunca foi incluído no Programa de Proteção à Testemunha. 

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Laudos periciais da PM e do MP concluíram que o suposto telefonema de Catatau assumindo a autoria do assassinato do ajudante de pedreiro, ocorrido dia 14 de julho do ano passado, é de outro PM, réu no processo criminal do caso, que está quase sendo finalizado. O soldado Marlon Campos Reis tentou disfarçar a voz, mas os peritos foram unânimes em afirmar que a ligação foi dele.

Vinte e cinco policiais foram denunciados por tortura, sendo oito deles por se omitirem diante do crime, 17 por ocultação de cadáver, 13 por formação de quadrilha e quatro por fraude processual. 

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