UFRJ afirma que há riscos à população na água distribuída no Rio

Pesquisadores afirmam que há 'evidente degradação dos mananciais utilizados para abastecimento'; mais cedo, presidente da Cedae pediu desculpas, mas admitiu que não sabe o que está causando a turbidez da água

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Por Roberta Jansen
Atualização:

RIO DE JANEIRO - A despeito das explicações apresentadas pela Companhia Estadual de Aguas e Esgotos (Cedae) sobre a qualidade da água potável, especialistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) afirmam que há riscos à saúde da população no produto fornecido pela empresa. 

“Há uma evidente degradação ambiental dos mananciais que são utilizados para o abastecimento público da região metropolitana do Rio”, afirmaram em comunicado conjunto, divulgado pela Reitoria da universidade. “Essa degradação compromete a qualidade da água, dificulta seu tratamento e pode colocar em risco a população.” A nota técnica foi elaborada por especialistas em ecologia, recursos hídricos, saneamento e saúde pública a pedido da reitoria da universidade para prestar esclarecimentos à população face aos problemas de odor, sabor e aspecto da água que chega às torneiras. Para os especialistas, se os recursos hídricos não forem recuperados, os problemas podem se tornar recorrentes.

Moradores de Paciência, na zona oeste do Rio, reclamam da qualidade da água distribuída pela Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Ceade) Foto: Gilvan de Souza/Agência O Dia

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“A companhia de saneamento é responsável pelo controle de qualidade da água tratada (...) A vigilância da qualidade da água é de responsabilidade do setor da saúde”, frisaram os cientistas. “A população não deve ser responsável por identificar se a água está ou não adequada ao consumo.”

Por conta do problema, muita gente vem optando pelo consumo de água mineral, que já está em falta em vários mercados. É o caso da administradora de empresas Karla Souza. De licença maternidade por causa do nascimento da filha há três semanas, ela deixou de consumir a água da Cedae por conta do cheiro e do gosto. “Até para escovar os dentes é ruim, sinto o cheiro de terra”, afirmou. “Estou comprando água mineral diretamente de distribuidoras porque já está em falta em muitos mercados.”

Para os cientistas, a situação é injusta. “Isso impõem um gasto extra para o consumidor, que deveria ser atendido de forma adequada pela rede de distribuição”, afirmaram.

Nesta quarta-feira, 15, em entrevista mais cedo, o presidente da Cedae, Hélio Cabral, pediu desculpas à população do Rio de Janeiro pelos transtornos causados por conta do sabor e do cheiro da água distribuída. Ele garantiu que o problema não voltará a acontecer.

De acordo com Cabral, a partir da semana que vem o reservatório do Guandu terá uma etapa extra de tratamento da água com carvão ativado que retira da água a geosmina - substância orgânica produzida por algas que causa o cheiro e o sabor de terra na água. Segundo a Cedae, ela não faz mal à saúde. 

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Cabral admitiu, no entanto, que não sabe o que poderia estar causando a turbidez da água que chega à população - a geosmina não provoca turbidez.

"Isso terá que ser investigado caso a caso", disse. "Pode ser um bicho morto, uma caixa d'água suja."