Saiba quem é Rosa Stanesco, vidente que prometia 'pessoa amada em três dias' presa por golpe no Rio

Rosa Stanesco Nicolau se apresentava como Mãe Valéria de Oxossi e agia na zona sul da capital fluminense, onde alegava atender 'famosos e políticos'; segundo a Polícia, família dá golpes na cidade há 20 anos

PUBLICIDADE

Foto do author Marcio Dolzan
Por Marcio Dolzan
Atualização:

O golpe de mais de R$ 720 milhões que a filha aplicou na sua própria mãe, viúva de um importante colecionador de artes do Rio, contou com a ajuda de uma família que há pelo menos duas décadas pratica crimes similares na capital fluminense, de acordo com os investigadores. O grupo conta com três mulheres que oferecem supostos trabalhos de "vidência" e, nos últimos 20 anos, conseguiu acumular um patrimônio que, para a Polícia Civil do Rio, não é compatível com a sua renda aparente.

PUBLICIDADE

Uma das autodeclaradas videntes é Rosa Stanesco Nicolau. Ela aluga uma sala em um edifício da Avenida Nossa Senhora de Copacabana e se apresenta como Mãe Valéria de Oxóssi. Em seu site, ela afirma ser especialista em "amarração amorosa e tratamentos espirituais". Também diz ser "vencedora de vários prêmios de paranormalidade no mundo, incluindo três consecutivos na Suíça, em Genebra".

"Mãe Valéria" também afirma ter sido "nomeada como a melhor e mais forte Mãe de Santo do Brasil", ainda que não diga por quem.

"Plantamos o que colhemos? Nem sempre esse ditado me soa correto, pois o que esses anos no Candomblé me fizeram perceber foi que pessoas boas colhem problemas que nunca plantaram. É aí que eu intercedo", afirma Rosa/Mãe Valéria no site. "A gratificação de ver cada pessoa como única no mundo, cada pessoa como um universo diferente, e poder ajudá-la a resolver a sua vida, seja amorosa, financeira, religiosa entre outras, me faz cada dia amar mais o Candomblé, pois são milagres, curas e alegrias que posso assistir com meus próprios olhos."

Um link postado no site leva a um texto sobre Mãe Valéria, de novembro de 2007, que afirma que ela é muito conhecida na zona sul do Rio. A mãe de santo teria cartazes espalhados por postes de Ipanema e Leblon, com a promessa: "Trago a pessoa amada em três dias". Segundo ela diz no artigo, a divulgação é obra de pessoas agradecidas por seus serviços.

"Eles se veem atendidos e querem me presentear. Agradeço muito, mas já pedi que não façam isso, pois concordo que suja a cidade", diz. Ela também assegura que tem, entre seus clientes, "pessoas famosas e políticos influentes".

Policiais exibem "Sol Poente", um dos quadros recuperados. Foto: Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade

Segundo narrou a idosa vítima do golpe à polícia, Rosa/Mãe Valéria foi a terceira "vidente" que visitou quando começou a ser enganada. Ao sair de uma agência bancária em 2020, a mulher foi abordada por Diana Rosa Stanesco Aparecida Vuletic, meia-irmã de Rosa. Foi ela quem disse que a filha da idosa iria morrer por um problema de saúde.

Publicidade

Na sequência do golpe, Diana levou a idosa a outra "vidente", Jacqueline Stanesco, que também integra a família de golpistas. Jacqueline apresentou uma abordagem mais dura, que intimidou a idosa - e que, segundo a Polícia, fazia parte da narrativa. Por fim, a idosa foi levada a Rosa.

Além delas, pelo menos outros três homens da família participaram da trama: Gabriel Nicolau Traslaviña, Slavko Vuletic e Ronaldo Ianov, já falecido.

"Todos eles têm histórico (de golpes), têm muitos registros. As mais atuantes são a Rosa, a Diana e a Jacqueline. Como 'vidência', tem vários registros de golpes que elas praticaram. Isso vem de mais de 20 anos", disse o delegado. "Eles trabalham individualmente também, brigam entre si, voltam a atuar juntos… É de acordo com o momento e a necessidade."

Três dos acusados - incluindo a filha da idosa - e 11 obras foram encontrados no apartamento de Rosa Stanesco Nicolau, que fica em Ipanema, próximo à praia. A área é uma das mais valorizadas da zona sul carioca.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

"Ela reside nesse imóvel há bastante tempo, é um imóvel de bom nível. Temos que verificar, porque ela não tem renda, não tem trabalho que não seja esse ligado à 'sorte' dos outros", afirmou o delegado Gilberto Ribeiro, titular da Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa de Terceira Idade (Deapti), responsável pela operação. "Nós recolhemos no local algumas evidências que nos dão conta que ela tem muito patrimônio. Como ela amealhou esse patrimônio, e se efetivamente todos esses bens que localizamos pertencem a ele, temos que ver."

Segundo o delegado, além do imóvel, a família adquiriu ao longo dos anos outros bens, incluindo carros de luxo, como um Porsche e uma Land Rover. Nenhum deles, contudo, estava no nome de Rosa. De acordo com ele, era hábito entre do grupo colocar os bens nos nomes dos filhos ou de pessoas próximas.

O Estadão tenta contato com a defesa dos acusados, mas ainda não obteve retorno.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.