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Cármen Lúcia desiste de visita a presídio em Goiânia

Presidente do Supremo define criação de mutirão carcerário contra crise de segurança pela qual passa Goiás

Por Rafael Moraes Moura , André Dusek e enviados especiais
Atualização:

GOIÂNIA – A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Cármen Lúcia, definiu nesta segunda-feira, 8, a criação de mutirões carcerários e o registro de presos do Estado de Goiás para enfrentar a grave crise penitenciária do Estado. A ministra, no entanto, desistiu de uma visita ao Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO), palco no último dia 1.º de um confronto entre detentos que deixou nove mortos, sendo dois decapitados. 

A presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, ministra Cármen Lúcia, com o governador Marconi Perillo (PSDB), no TJ-GO em Goiânia Foto: André Dusek/Estadão

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Cármen se reuniu a portas fechadas com o governador Marconi Perillo (PSDB), o presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), desembargador Gilberto Marques Filho, representantes do Ministério Público, juízes de varas de execução penal e integrantes da segurança pública do Estado.

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“Os Poderes têm de ser harmônicos, mas independentes, e cada um tem de exercer seu papel constitucional. Vamos nos empenhar mais. Não vamos procurar culpados, vamos encontrar soluções”, disse Cármen na reunião, conforme relatos obtidos pela reportagem.

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Em tom de orientação e alerta, a ministra também aproveitou o encontro para questionar as autoridades goianas sobre as facções que atuam nos presídios locais, querendo saber quais são e como se organizam. “O cidadão brasileiro não aguenta mais ter que andar com medo durante o dia”, comentou a presidente do STF.

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Durante a reunião, foi acertada a realização de mutirões carcerários, onde serão verificadas a situação de presos e a programação de inspeções nos presídios goianos. Cármen ainda solicitou que as armas recolhidas sejam encaminhadas imediatamente ao Exército para destruição. Indagado por Cármen sobre as medidas que serão tomadas a curto prazo, o governador de Goiás destacou a inauguração de cinco novos presídios, sendo que dois deverão ser entregues até fevereiro.

“O sistema prisional no Brasil é muito complicado, explosivo no Brasil inteiro. A situação de Goiás hoje é muito mais segura que em outros lugares”, disse Perillo a jornalistas, ao deixar a reunião na sede do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO).

VISITA A visita foi cancelada por questão de segurança, segundo apurou a reportagem. O governador, no entanto, afirmou que a ministra estaria protegida caso conferisse pessoalmente a situação do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.

“O presidente do Tribunal de Justiça esteve lá, foi recebido com total segurança, se a presidente do STF quiser ir lá agora, terá total e absoluta segurança para a visita dela”, comentou Perillo. No entanto, o próprio presidente do TJ-GO disse que aconselhou Cármen a não ir ao complexo penitenciário.

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“Eu acho que não seria prudente expor, embora ela quisesse ir, eu a convenci até pra que ela não fosse, porque não havia necessidade, a verdade é essa. O que ela vai ver é o que eu já vi e narrei pra ela. Perigo há pra qualquer um, até para aqueles que trabalham lá. Eu próprio fui ciente do risco”, disse o desembargador Gilberto Marques Filho.

O diretor-geral de administração penitenciária, coronel Edson Costa, reconheceu que a visita da ministra traria riscos.  

“Não vejo necessidade para isso. O próprio Poder Judiciário local já fez uma inspeção conosco, fui eu, o presidente do tribunal, não vejo a necessidade. A segurança pública tem de trabalhar mitigando riscos, então ela tem todas as informações, temos fotos, temos as condições de passar pra ela a realidade da unidade. O risco é uma situação inerente ao sistema prisional. O que você pode fazer para mitigar esse risco é melhor”, opinou.

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MANDADOS Antes da reunião, Cármen conversou reservadamente com Perillo, com o presidente do TJ-GO e o procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres. Segundo o Estadão/Broadcast Político apurou, Cármen pediu na ocasião a relação de todos os presos com mandados de prisão expedidos e os motivos dos mandados para tentar ajudar, no que for possível, quanto às vagas.

Uma nova reunião, com a presença da ministra, foi marcada para o dia 9 de fevereiro com o intuito de analisar se houve avanços. 

O governo de Goiás promete investir R$ 150 milhões na conclusão de cinco  presídios até o final do ano, que deverão resultar na criação de 1.588 novas vagas.

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