Fortes chuvas deixam ao menos 16 mortos no Rio; Paraty e Angra são as mais atingidas

Mãe e seis filhos estão entre as vítimas; Estado teve um dos verões com mais óbitos por causa de temporais nos últimos anos, com mais de 240 óbitos em Petrópolis

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Por Daniela Amorim (Broadcast) e Bruno Villas Boas
Atualização:

RIO – Os temporais que atingem o Rio de Janeiro provocaram deslizamentos de terra que deixaram pelo menos 16 mortos no Estado, incluindo crianças e adolescentes, segundo informaram as autoridades neste domingo, 3. Entre as áreas mais atingidas, estão Angra dos Reis e Paraty, onde uma mãe e seis filhos morreram soterrados. Ainda há pelo menos outros sete desaparecidos na região. Neste ano, as chuvas em Petrópolis, na região serrana do Estado, já haviam causado mais de 240 óbitos entre fevereiro e março.

A família de Paraty foi soterrada no bairro de Ponta Negra – os filhos tinham entre dois e 17 anos. As vítimas foram a mãe Lucimar e  seis filhos: João, de dois anos, Estevão, de cinco anos, Yasmim, de oito anos, Jasmin, de 10 anos, e Luciano, de 15 anos e Lucimara, de 17 anos. Um sétimo filho foi resgatado com vida e levado ao Hospital Municipal, sendo transferido para o hospital de Praia Brava. Segundo a prefeitura de Paraty, 219 famílias foram atingidas por alagamento ou perdas materiais, em 22 bairros. Há 15 famílias abrigadas em escolas municipais.

Busca por desaparecidos apósdeslizamento no bairro Monsuaba, em Angra dos Reis, em 2 de abril Foto: Defesa Civil/Divulgação

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Em Angra dos Reis, foram confirmadas outras sete mortes. Os desabamentos atingiram ao menos seis casas no bairro Monsuaba. No local, agentes da Defesa Civil fazem buscas por outros três  desaparecidos. Entre as vítimas encontradas pelo Corpo de Bombeiros, estão uma menina de cerca de 4 anos e um menino de onze. Outras pessoas permanecem desaparecidas. 

Durante a madrugada deste domingo, 3, houve novo deslizamento na localidade, sem vítimas. Angra dos Reis está em situação de emergência em decorrência do volume recorde de chuva registrado em 48 horas: 809 milímetros em Araçatiba, na Ilha Grande, e 694 milímetros em Monsuaba, no continente.

A prefeitura informou que as comunidades mais afetadas da Ilha Grande foram as de Araçatiba, Vermelha, Provetá, Abraão e Aventureiro, atingidas por deslizamentos de terra e de blocos de pedra. Neste domingo, havia 181 desalojados em abrigos disponibilizados no município. Interdições provocadas pelos deslizamentos mantêm suspensa a circulação de algumas linhas de ônibus na região. O Corpo de Bombeiros do Estado informou ainda ter sido acionado também em socorro a vítimas de um deslizamento na Praia Vermelha, na Ilha Grande.

Houve deslizamentos de encostas em vários pontos, o que interrompeu a circulação de ônibus que ligam o centro de Angra aos bairros de Jacuecanga, Monsuaba, Ponta Leste e Conceição de Jacareí, a pedido da Secretaria Executiva de Ordem Pública e Mobilidade Urbana.

A região metropolitana do Rio também foi fortemente atingida por alagamentos, como Belford Roxo e Mesquita, onde um homem de 38 anos morreu eletrocutado quando tentava socorrer outra pessoa. Em Nova Iguaçu, a prefeitura chegou a decretar estágio de alerta máximo, quando há risco muito alto de enxurradas, inundações e deslizamentos por causa dos temporais.

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A Defesa Civil da cidade informou na manhã de sábado ter atendido cerca de 50 ocorrências relacionadas às chuvas. O Hospital Geral de Nova Iguaçu foi atingido por infiltrações em dois Centros de Terapia Intensiva. Os alagamentos forçaram a transferência de 13 pacientes de uma das alas para os setores de pós-operatório.

A Rodovia Rio-Santos, BR-101, permanece com bloqueios provocados pelas chuvas, assim como a RJ-155 e a Estrada do Contorno. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, a Rio-Santos estava, na manhã deste domingo, 3, com pontos de interdição parcial e total, causados por deslizamentos e alagamentos. O trânsito estava totalmente impedido em seis pontos, na altura dos municípios fluminenses de Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty e de Ubatuba, em São Paulo.

Na capital fluminense, moradores ainda enfrentavam neste domingo transtornos decorrentes dos alagamentos, principalmente, na zona oeste. A previsão do tempo é de chuva fraca a moderada. "Se a gente estivesse num dia vindo de uma semana muito seca era tranquilo, mas, óbvio, se você já tem solo muito encharcado, áreas alagadas, lagoa muito alta, rios muito altos, isso aumenta o risco. As principais vias estão liberadas", contou o prefeito Eduardo Paes (PSD) em postagem em uma rede social.

O governo federal informou que aeronaves das Forças Armadas foram acionadas para transportar militares do Corpo de Bombeiros às regiões mais afetadas do Estado. Apesar do alerta, os órgãos orientam que a população pode seguir a rotina normalmente. No entanto, pede atenção aos moradores das regiões mais afetadas para ficar atentos às atualizações dos canais de comunicação, além de se cadastrar no serviço de alertas da Defesa Civil via SMS. 

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O governo de Jair Bolsonaro (PL) reconheceu neste domingo a situação de emergência em Angra dos Reis, cidade do litoral sul do Rio de Janeiro, atingida por fortes temporais. A medida foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) e, segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), "foi tomada por procedimento sumário, que ocorre em casos de desastres de grandes proporções". Com a situação de emergência decretada, a cidade pode pedir recursos para ações de resposta, como socorro e assistência humanitária e restabelecimento de serviços essenciais, além de reconstrução das áreas atingidas pelo desastre.

Temporais fizeram mais de 240 vítimas em Petrópolis

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Deslizamentos neste ano deixaram vítimas principalmente em Petrópolis, na região serrana do Rio. As chuvas intensas de 15 de fevereiro causaram ao menos 240 mortes no município, enquanto novas chuvas entre 19 e 20 de março vitimaram pelo menos outras sete pessoas.

Levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) identificou 3.758 óbitos causadas por deslizamentos no País de 1988 até 8 de fevereiro de 2022. Desastres do tipo estão ligados à ocupação das cidades, à destruição ambiental e às mudanças climáticas em curso. /COLABOROU JULIA AFFONSO

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