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São Clemente repete samba de 1990, faz crítica atual, mas peca pela simplicidade

Escola mencionou o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), que cortou 75% da verba municipal distribuída às escolas; dos R$ 2 milhões entregues a cada uma em 2016 restaram R$ 500 mil neste ano

Por Fabio Grellet e Fernanda Nunes
Atualização:

RIO DE JANEIRO - A segunda noite de desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro foi aberta às 21h30 desta segunda-feira, 4, quando a São Clemente iniciou seu desfile na Marquês de Sapucaí. Conhecida pelos enredos bem-humorados, desta vez a escola de Botafogo (zona sul) repetiu uma crítica que já havia apresentado em 1990 e que ficou ainda mais atual. 

+ Acompanhe os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro 

Primeira a desfilar, São Clemente teve Raphaela Gomes como rainha de bateria Foto: Wilton Junior/Estadão

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O enredo "E o Samba Sambou" mostrou como a profissionalização do desfile impôs mudanças às escolas e o carnaval passou a ser regido pelo poder financeiro. O tema foi bem explorado, com fantasias e alegorias compreensíveis, mas a escola sofre exatamente com a falta de dinheiro. Sem luxo e bastante simplória, e ainda afetada por uma certa correria, a escola certamente não retorna no Desfile das Campeãs, que vai reunir no próximo sábado, 9, as seis escolas mais bem colocadas. 

Logo na comissão de frente foi representada uma reunião dos dirigentes da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), a entidade que organiza o desfile e controla a verba destinada ao evento. Seguiram-se críticas ao troca-troca de carnavalescos, intérpretes e outros profissionais entre as escolas, aos camarotes na Sapucaí organizados por empresas, que oferecem atrações musicais próprias e deixam as escolas em segundo plano, e até a ala das baianas entrou na dança: segundo o enredo, se faltar baiana para completar o número mínimo exigido pelo regulamento é possível “alugar” um mulher pra desfilar como baiana. Em um dos carros alegóricos, um pavão multicolorido representava a vaidade dos carnavalescos e demais profissionais do carnaval. Ao centro havia um ringue onde musas e rainhas brigavam para aparecer mais. Também foram ironizadas as credenciais tão valorizadas na Sapucaí e o exibicionismo nas redes sociais.

Em uma noite de desfiles que deve ser pontuada pela crítica política, a São Clemente largou na frente mencionando o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), que cortou 75% da verba municipal distribuída às escolas: dos R$ 2 milhões entregues a cada uma em 2016 restaram R$ 500 mil neste ano.

Um carro alegórico propositalmente inacabado anunciava entre os 15 autores do imaginário samba-enredo da igualmente fictícia “Unidos do Conchavo” uma pessoa chamada “votei no bispo e me ferrei”. Outro carro alegórico, que saudava os antigos carnavais, exibia faixas onde se lia “alô prefeitura!!!” e “carnaval é nossa cultura” e “corte de verbas”. E foi só o início de uma noite de críticas políticas, das quais as mais intensas devem vir de Paraíso do Tuiuti e Mangueira. 

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